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Radio Viseu Cidade Viriato

terça-feira, 28 de abril de 2009

Se fosse vivo festejava os seus 120 anos ....


António de Oliveira Salazar, um homem rural que dizia ter "horror a Lisboa", liderou a ditadura mais longa da Europa.


Confessava aos amigos mais próximos que não gostava da sua vida, preferia antes estar "entre os campos e as vinhas". Nascido há 120 anos, António de Oliveira Salazar, um homem rural que dizia ter "horror a Lisboa", liderou a ditadura mais longa da Europa.


"Este homem que é governo não queria ser governo", diz sobre si próprio, no prefácio do livro "Salazar: O Homem e a Sua Obra", que reuniu entrevistas realizadas por António Ferro (1933).


António de Oliveira Salazar nasceu a 28 de Abril de 1889 no Vimieiro, Santa Comba Dão, filho tardio de um casal humilde e profundamente católico. Foi o último filho, depois de quatro raparigas, quando a mãe já tinha 43 anos e o pai 50.


Aos 11 anos ingressa no seminário de Viseu e, em 1908, termina o curso de teologia "com distinção". Ainda hesita em seguir a vocação religiosa, mas acaba por decidir estudar Direito na Faculdade de Direito de Coimbra, onde veio a assumir a cátedra de Ciência Económica.


Eleito deputado em 1921, sempre que se deslocava a Lisboa devido a assuntos da política, tentava demorar-se o menos possível, confessando o seu "horror" à capital.


Após o 28 de Maio de 1926 -- revolução que levou ao poder uma ditadura militar que combatia o republicanismo democrático -- ocupou durante "uns quatro dias" o cargo de ministro das Finanças.


Em 1928, sob o governo do general Vicente de Freitas, volta a assumir a pasta das Finanças e, em 1930, anuncia a institucionalização da ditadura.


A 05 de Julho de 1932, Salazar toma posse como primeiro-ministro. No ano seguinte, fica concluída a Constituição do Estado Novo e torna-se "presidente do Conselho", ao liderar o seu primeiro governo constitucional.


O segundo governo do ditador seria empossado em 1936 e duraria 32 anos, apesar das remodelações.


Tendo como armas a polícia política (PIDE), a censura, a ilegalização dos partidos e sindicatos, o colonialismo, a propaganda, Salazar dominou o país durante 40 anos, quatro meses e 28 dias, e a sua ditadura é citada no livro de recordes do Guiness como a mais longa da Europa.


Apesar da sua passagem pelo seminário, Salazar era ainda jovem quando se afastou da religião. Nunca mais voltou a confessar-se ou a comungar, limitando-se a ajudar à missa aos domingos, em São Bento.


No entanto, Salazar sentia-se atraído pelo misticismo e consultava cartomantes, astrólogas, médiuns, que fazia deslocar à residência, revelou o jornalista Fernando Dacosta, no livro "As Máscaras de Salazar".


A sua ordem era sempre para poupar. Razão por que dos restos das suas calças antigas se faziam saias para "D. Maria" -- Maria de Jesus, a eterna governanta -, ou calções para o filho de "Micas", que acolheu em sua casa durante 20 anos, descreve o livro "António Oliveira Salazar", da colecção "Fotobiografias do Século XX", coordenado por Joaquim Vieira.


Era também para equilibrar o parco orçamento que Salazar destinava à gestão de São Bento que D. Maria começou a criar galinhas e coelhos nos jardins da residência, vendendo depois animais e ovos para restaurantes da zona e para o Hotel Aviz.


O ditador manteve-se sempre um homem rústico: as refeições eram simples, não usava perfume, não tinha hábitos sociais e cultivava um grande apego ao Vimieiro, onde produzia vinho nas terras da família.


Aos amigos confessava: "Eu não gosto da minha vida, em vez de governar gostaria de viver entre os campos e as vinhas", da mesma forma que dizia: "Não tenho gosto pelo poder, ele não me seduz, não me dá nenhuma satisfação".


Mesmo depois da sua morte, a modéstia é uma constante: Salazar deixou numa conta na Caixa Geral de Depósitos 274.892 escudos e terras avaliadas em cerca de 100 contos e a sua campa é das mais "pobres" do cemitério do Vimieiro.


Até as suas férias eram humildes: no Verão mudava-se para o Forte de Santo António do Estoril, que pagava do seu bolso ao Instituto de Odivelas consoante o preço praticado pelas pensões da zona.


Foi numa estada no Estoril que sofreu o acidente que viria a afastá-lo das funções políticas, a 03 de Agosto de 1968. Na versão do barbeiro Manuel Marques, citado por Fernando Dacosta, o acidente não se deveu à queda da cadeira, mas porque o ditador tombou no chão desamparado.


Salazar, distraído a ler o jornal, deixou-se cair para trás sem se aperceber que, afinal, a cadeira não estava lá.


O ditador nunca mais recupera -- "não sei o que tenho" -- e mais de um mês depois é operado no hospital de São José, mas a 16 de Setembro piora, com uma hemorragia no cérebro.


Dez dias depois, Salazar é exonerado pelo presidente Américo Tomás, que nomeia Marcelo Caetano como seu sucessor, mas ninguém informa o ex-presidente do conselho deposto.


Durante dois anos, o antigo ditador acreditou que ainda governava.


"Há uma ficção de tragédia posta em teatro: Salazar vivendo na residência oficial do chefe de Governo. Salazar recebendo ministros, embaixadores, jornalistas estrangeiros. Salazar discutindo política, concedendo entrevistas. E Salazar sendo somente um grande inválido despojado de todo o poder terreno", escreve Franco Nogueira, autor da biografia "Salazar".


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