A investigadora em botânica e micologia, Celeste Santos e Silva, acredita que as intoxicações por cogumelos venenosos são motivadas por crendices e desconhecimento das espécies que são colhidas.
«Deixem de acreditar nas crendices da colher de prata, do dente de alho ou da cebola, que escurecem se o cogumelo for venenoso», aconselha a especialista, em declarações à Lusa.
«As pessoas que o fazem tiveram sorte estes anos todos», afiançou a docente do Departamento de Biologia da Universidade de Évora, classificando esta situação como «dramática».
A responsável exemplificou com outro caso: «Há pessoas que acreditam que se há lesmas ou larvas que comem os cogumelos eles também são bons para nós, o que não é verdade».
Esta semana morreram duas pessoas, um homem de Leiria e uma mulher de Pombal, em unidades hospitalares de Coimbra devido à ingestão de cogumelos venenosos.
Celeste Santos e Silva salientou que, «à primeira vista, é impossível distinguir os cogumelos que são comestíveis dos que são tóxicos».
«Não é pela cor, nem pela forma, nem pelo cheiro. Têm um conjunto de características que se conjugam para cada espécie de cogumelo», advertiu a investigadora, acrescentando que «para conhecer é preciso formação que não é apenas dos livros».
Entretanto, 25 pessoas recorreram este mês ao Centro de Informação Antivenenos (CIAV) do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) devido a envenenamento por cogumelos.
Os dados do INEM indicam que até às 15:20 de dia 19 solicitaram a ajuda do CIAV 25 pessoas, num total de 34 consultas dadas este ano por aquele centro.
As restantes solicitações ocorreram nos meses de Março e Junho (duas em cada mês), Agosto (1) e Outubro (quatro).
Segundo o INEM, dos atendimentos efectuados em Novembro, sete reportam-se a doentes residentes no distrito de Leiria e quatro com morada em Braga. Já três são de Coimbra e outros três do Porto.
O CIAV é um centro médico de informação toxicológica que presta esclarecimentos sobre o diagnóstico, quadro clínico, toxicidade, terapêutica e prognóstico da exposição a tóxicos, e de intoxicações agudas ou crónicas.
O Centro de Informação Antivenenos aconselha as pessoas a contactarem este serviço (número de telefone 808250143) ou a dirigirem-se a uma unidade de saúde se após a ingestão de cogumelos surgirem sintomas, nomeadamente vómitos e diarreia.
O CIAV informa que, no caso de ingestão de cogumelos mais tóxicos, a situação leva à insuficiência hepática ou à falência do fígado.
No caso de se tratar de cogumelos menos tóxicos, a situação pode desencadear uma gastroenterite.
Moradores da freguesia de São Simão de Litém, concelho de Pombal, onde residia a mulher de 38 anos que morreu devido à ingestão de cogumelos venenosos, revelaram-se hoje surpreendidos com a situação.
«Nunca houve nenhum acidente com cogumelos», disse à Agência Lusa Daniel Gameiro, que desde criança se habituou a comer os cogumelos que o avô colhia e que hoje também apanha iguais na localidade de Vila Galega.