No Arquipélago dos Açores ocorrem três erupções vulcânicas por século mas os planos de emergência estão "fechados nas gavetas e não são discutidos publicamente", lamenta Victor Hugo Forjaz, director do Observatório Vulcanológico e Geotérmico dos Açores.
"As autoridades governamentais e autárquicas não acreditam que um vulcão possa entrar em actividade nos Açores. Acreditam nos sismos, porque os sentem, mas não acreditam que podemos ter acontecimentos vulcânicos de repercussões importantes", assinalou o vulcanólogo.
Segundo o investigador, nos tempos que correm é possível "atenuar fortemente" as consequências de uma erupção vulcânica "através de construções e equipamentos, bem como realizando ensaios e testes para essas situações críticas", mas não é isso que acontece.
"Depois de Capelinhos, que causou uma onda migratória para os Estados Unidos, já houve vários vulcões. Ninguém acreditava em Capelinhos até 1957 mas depois ocorreu Velas/Rosais, em São Jorge, e Serreta" recordou.
No caso de Rosais, ocorreu uma crise sísmica entre 1962 e 1964 com origem num centro eruptivo situado cerca de 1,5 milhas a Sudoeste da Ponta dos Rosais, enquanto a Crista Submarina da Serreta, localizada cerca de 10 quilómetros a Oeste da ilha Terceira, entrou em erupção em 1998.
Porém, "a memória é curta para os desastres e cinco ou seis anos depois só as famílias atingidas é que se lembram", afirmou Victor Forjaz à agência Lusa, sublinhando que os vulcões das Furnas, Fogo e Sete Cidades (todos na Ilha de São Miguel), assim como a Caldeira do Faial, "têm todas as características de um dia poderem voltar a acordar".
"Os cientistas sabem que três vezes por século há um vulcão que entra em actividade no Arquipélago" mas "após Capelinhos, São Jorge e Serreta entrámos num período de adormecimento mental, do género «já que não houve nada de grave até agora, também não vai haver nada de grave no futuro»", comentou.
Por isso, e embora os municípios tenham "planos de emergência feitos de acordo com a lei", estes estão "fechados nas gavetas e não são discutidos publicamente", censura o director do Observatório Vulcanológico e Geotérmico dos Açores.
Criticando a actuação "passiva e miserabilista" dos municípios, "que só fazem ensaios sísmicos, não fazem ensaios vulcanológicos", o responsável do Observatório considera que a população dos Açores não está preparada para o dia em que um vulcão entre em erupção no Arquipélago, onde apenas a Ilha de Santa Maria está comprovadamente a salvo de reactivações.
"No caso de ocorrer uma erupção nas Sete Cidades, a população de Ponta Delgada não sabe onde ir buscar pão, onde conseguir um helicóptero, onde passar a noite", afirmou Victor Hugo Forjaz, segundo quem, nos Açores, "não há uma cultura de protecção civil, há sempre a esperança de que Nosso Senhor e os santos hão-de proteger esta gente".
Novo ciclo geológico
Os vulcões existentes em Portugal continental estão extintos mas o planeta pode estar a entrar num novo ciclo geológico, com uma zona de subducção a sudoeste da Península Ibérica, e a actividade vulcânica não está excluída.
"Com base na distribuição dos sismos, há quem diga que podemos estar a entrar num novo ciclo geológico, que poderá ter como consequência o vulcanismo", afirmou o geólogo José Francisco à agência Lusa.
Na origem do processo estará um fenómeno de subducção, ou seja o mergulho de uma placa sob outra - no caso concreto, da placa oceânica sob a placa continental, em cujo extremo está Portugal - explicou o investigador da Universidade de Aveiro.
De uma forma genérica, o efeito pode ser visto em http://pt.wikipedia.org/wiki/Zona_de_subducção.
O investigador alertou, todavia, que - a confirmar-se esta tese - "o vulcanismo apenas se manifestará dentro de milhões de anos", pois a própria subducção leva muito tempo a concretizar-se.
No continente, a actividade vulcânica mais recente tem já cerca de 70 milhões de anos e registou-se no Complexo Vulcânico de Lisboa, cujos 200 quilómetros quadrados se estendem da capital a Torres Vedras, passando por Cascais, Sintra ou Mafra (onde permanece uma chaminé vulcânica de basalto, o Penedo de Lexim).
"Apesar de o complexo estar extinto há tanto tempo, ainda há uma chaminé vulcânica junto à antena da televisão em Monsanto, como houve em Alcabideche", indicou Victor Hugo Forjaz, director do Observatório Vulcanológico e Geotérmico dos Açores, acrescentando que muitos vestígios foram, ao longo dos anos, "cobertos pelo casario, pelos bairros".
Um vulcão é declarado extinto se não teve manifestações exteriores de actividade nos últimos 10 mil anos "e quando os estudos científicos demonstram que debaixo dele não há calor, não há magma que o possa alimentar", explicou Victor Forjaz, acrescentando que "é considerado adormecido se teve erupções recentes ou se tem, à superfície, manifestações de actividade", como fumarolas.
Segundo o especialista, a actividade vulcânica é anunciada "pelo aumento da temperatura do solo com meses de antecedência, pelo aumento da sismicidade e pela variação dos campos magnético e gravimétrico, que são indícios de perigo".
E o que causa uma erupção vulcânica? "O acumular de energias durante um certo número de séculos e factores externos, como uma conjugação de fases da lua e do sol e a existência de forças laterais e verticais na crosta terrestre", esclareceu o director do Observatório.
"Mas todos os investigadores concordam que não há hipótese de os vulcões entrarem em actividade no continente", assinalou, numa posição reiterada por José Francisco, da Universidade de Aveiro, que indicou à Lusa mais alguns vestígios de vulcanismo.
"Na Faixa Piritosa Ibérica, que abrange o Baixo Alentejo e continua para Espanha, o vulcanismo submarino teve forte expressão no início do período Carbónico (360 a 300 milhões de anos), levando à formação de jazigos minerais como a mina de Neves Corvo, a mais importante em actividade em Portugal", exemplificou.
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