O desemprego disparou, no último ano, mas as várias regiões reagem de maneira diferente. A falta de trabalho sente-se, sobretudo, na fronteira com a Galiza e na zona dos móveis, cortiça, cerâmica e turismo. Já em Bragança, o desemprego baixou.
Primeiro as más notícias, as dos concelhos onde, em Maio (últimos dados disponíveis), estavam registadas nos centros de emprego mais pessoas à procura de trabalho do que um ano antes. Olhando só para as regiões onde o desemprego aumentou mais do que 50%, várias zonas problemáticas saltam à vista.
Começando pelo Norte, os concelhos de Cerveira, Paredes de Coura, Valença, Monção e Melgaço formam um cordão na fronteira minhota com a Galiza que agora sofre com a crise galega. Por duas vias, diz António Marques, presidente da Associação Industrial do Minho (AIMinho): primeiro muitas empresas desta região fornecem uma fábrica automóvel espanhola, a PSA, que, como todo o sector automóvel, atravessa tempos difíceis; e segundo porque, como a própria Galiza está em recessão, as suas empresas estão a reduzir investimentos e, mesmo, a fechar as unidades que tinham em Portugal.
Já no Porto fica patente o resultado prático de ter sido o distrito com mais falências no primeiro semestre: mais 50%, num total de meio milhar de encerramentos. Falências significam desemprego e, olhando de perto, vê-se que os concelhos mais atingidos são Paços de Ferreira, Paredes e Lousada, a prova de que a indústria do mobiliário atravessa tempos negros. O sector está numa crise profunda com raízes antigas, já que a maioria das empresas (muito pequenas e sem marca própria) não estava preparada para concorrer com cadeias como o Ikea. Agora, a crise económica vem agravar ainda mais o problema.
Um pouco mais a Sul, mas ainda na Região Norte, outra cintura industrial atirada para tons de vermelho: Santa Maria da Feira, S. João da Madeira e Oliveira de Azeméis, sítios de cortiça, de moldes e de calçado. Na cortiça, só este ano já duas empresas com cerca de 150 trabalhadores fecharam portas ou pediram protecção aos tribunais. E por cada empresa grande com problemas, muitas mais pequenas haverá, de acordo Joaquim Lima, da associação sectorial, Apcor. "Há três ou quatro anos apareceram os primeiros sinais de redução da procura de rolhas de cortiça e, desde o final do ano passado, o consumo de vinho também caiu", pelo que as fábricas perderam ainda mais clientes.
Seguindo em direcção à capital, surgem a Marinha Grande, Pombal, Figueiró dos Vinhos, Alvaiázere, Ourém, Batalha e Porto de Mós. São concelhos industrializados, de vidro e metalurgia, que fecham um anel em torno de Leiria, que escapou por pouco à cor vermelha, já que viu o desemprego subir "apenas" 43% num ano.
Rafael Campos Pereira, secretário-geral da AIMMAP, a associação da metalurgia, reconhece a diminuição das encomendas nas empresas do sector, mas assegura não haver um "aumento significativo" de encerramentos. Nas empresas maiores, há, isso sim, "denúncias de contratos a termo". Já nas mais pequenas, muitas a trabalhar como subcontratadas para as maiores, Campos Pereira admite a existência de "alguns despedimentos".
Boas notícias vindas de Bragança
É do nordeste do país que vêm as melhores notícias no que toca ao desemprego. É o lado positivo de se ser uma região pouco industrializada, admite Rui Vaz, presidente do Nerba, o Núcleo Empresarial de Bragança. Só quatro dos doze concelhos tinham, em Maio, mais desempregados do que um ano antes. Rui Vaz mostrou-se surpreso com os dados, que atribuiu também ao espírito “de persistência e trabalho” dos transmontanos. Além disso, a maioria das pessoas trabalha nos serviços ou na agricultura, sectores menos afectados pela crise actual do que a indústria e, portanto, menos gerados de desemprego.
Além de Bragança, duas zonas no Centro também têm manchas verdes: uma em torno de Sernancelhe e Penedono e outra em Arganil e Vila Nova de Ródão (o concelho onde o número de desempregados mais baixou, 26%).
Nos concelhos da zona de Lisboa, não houve casos de descida do desemprego e só em Ourém o aumento ficou acima dos 50%.