Mãe e filho, de 60 e 30 anos, foram detidos pela PJ, num bairro social, em Almada, suspeitos de liderarem um grupo que extorquia dinheiro a construtores civis. Só em 2005 conseguiram obrigar as vítimas a entregar 500 mil euros.
Bem vestidos e com bons modos visitavam apartamentos de luxo para venda na região de Lisboa. Escolhiam os locais a preceito e o valor pedido pelos empresários não era entrave, diziam. Tanto que, dias depois, davam um sinal, sempre elevado. Mas colocavam a condição de se mudarem imediatamente.
Os construtores acediam ao pedido e à entrega das chaves, mas quando firmavam o contrato de promessa de compra e venda eram surpreendidos: ao instalarem-se na habitação, os novos moradores levavam com eles um elevado número de familiares, todos de etnia cigana. A partir desse dia, comportavam-se, segundo a Polícia Judiciária (PJ), que liderou as investigações, com modos pouco adequados.
"Provocavam distúrbios e barulho constantes e desrespeitavam deliberadamente as regras de bom convívio social. Não tinham qualquer cuidado com a higiene, nem faziam os respectivos contratos de luz e de água, vivendo de forma precária", salientou Alves da Cunha, responsável pela investigação. Depois disso, e perante o desespero de empreiteiros e empresários, que se viam impossibilitados de vender as restantes fracções naquelas circunstâncias, os novos moradores exigiam altas quantias de dinheiro - o dobro do sinal ou mais -, para abandonarem o apartamento e desistirem da compra. Muitos empresários acabavam por ceder.
Pelo menos num caso, a situação tornou-se mais complicada quando o construtor civil recusou pagar e foi ameaçado pelo grupo, com recurso a armas de fogo.
A PJ, que vinha a receber várias queixas desde 2005, com mais incidência na Grande Lisboa, chegou na última quarta-feira aos suspeitos. Aliás, segundo o que foi possível apurar, só nesse ano este grupo conseguiu extorquir a vários empresários mais de 500 mil euros e, nos últimos meses, a PJ recebeu mais de 30 queixas .
"A partir dessa altura, o grupo refreou um pouco a sua actuação. No entanto, continuaram a utilizar o mesmo 'modus operandi', mas utilizavam outros familiares para continuar a perpetrar o mesmo tipo de crime", realçou a fonte da PJ, destacando que mãe e filho foram detidos à noite, num bairro social de Almada, local onde habitavam com restantes familiares. Das buscas resultou ainda a apreensão de diversas armas de fogo ilegais e armas brancas.
As investigações prosseguem e o responsável não descarta a possibilidade de virem a ser constituídos mais arguidos. Os dois suspeitos foram acusados de crimes de burla, extorsão e arma proibida. Esta foi a primeira vez que a PJ conseguiu obter meios de prova suficientes para efectuar detenções por este género de crime.
Por isso mesmo, Alves da Cunha considerou que este poderá ser o primeiro passo para dar início a outras investigações que levem à detenção de outros suspeitos a actuar no país. "Temos a indicação que há outros grupos a actuar da mesma forma em todo o país. Pode ser que esta investigação abra uma porta para pôr cobro a este tipo de burla".