Chuva e granizo provocaram estragos em várias habitações...

"Já não tive tempo de ir para o andar de cima, só consegui abrir a porta do terraço para a água escoar e subir para cima da mesa", lembra Aida da Costa, ainda um pouco atordoada e incrédula com tudo o que lhe aconteceu na noite de quarta- -feira.
A chuva forte e o granizo que cairam durante alguns minutos, a partir das 20h30, atingiram um metro de altura em alguns locais da cidade de Santa Comba Dão e provocaram bastantes estragos, não só em casa de Aida como em vários pontos do concelho, derrubando árvores, danificando muros e estradas e inundando o rés-do-chão de muitas habitações.
O Bairro Vasco da Gama, um bairro social junto ao Centro de Saúde, foi o mais afectado, tendo algumas casas ficado com os andares de baixo completamente alagados com lama e granizo.
A casa de Aida da Costa foi uma delas. "Eu nem me apercebi que estava a cair saraiva. De repente, ouço um estrondo, a porta abre-se e entra uma enxurrada de água que levou tudo à frente", contou, referindo que tinha algumas peças de estimação do falecido marido e que ficou "tudo estragado".
Aida conseguiu abrir a porta do terraço para a água passar e saltou para cima da mesa da sala onde ficou até o irmão chegar e a levar para o andar superior. O dia de ontem foi dedicado às limpezas que devem continuar durante alguns dias, pois tudo o que estava no andar inferior ficou sujo e danificado.
"Isto é tudo para deitar fora", disse, enquanto apontava para livros, roupas, móveis e outros bens que não têm recuperação possível, como foi também o caso de todo o calçado que tinha.
A Câmara disponibilizou de imediato toda a maquinaria necessária à remoção da pedra e só desta casa saiu um camião carregado. As limpezas só terminaram por volta das 4h00 e, ontem de manhã, os trabalhos continuaram nas vias públicas onde ainda havia vestígios do mau tempo.
Desde o início do ano que Aida da Costa falava em fazer um seguro para a casa que arrenda há oito anos, o que nunca chegou a concretizar, tendo agora de arcar com todos os prejuízos materiais, nomeadamente nos frigoríficos que foram derrubados pela força da água e da saraiva.

"Foi uma fracção
de segundos"
Pela mesma aflição passou Graça Morais e a família, também residentes no Bairro Vasco da Gama. Esta moradora recordou o momento em que teve de saltar um muro que rodeia a sua casa (construída abaixo do nível da estrada) para poder pôr-se a salvo.
"Hei-de lembrar-me desta imagem toda a vida, a água e o granizo a chegarem-me à cintura. O meu marido começou a gritar: "Vamos embora que nós morremos aqui" e eu ainda me lembrei de desligar o quadro da luz, saí para rua, fechei a porta de casa e já não consegui subir as escadas, tive de me sentar no muro e ir andando até o meu marido me puxar", lembrou.
No rés-do-chão desta moradia não ficou um electrodoméstico intacto, todos sofreram danos, assim como móveis, sofás, tapetes, loiças e tantos outros objectos que foram atingidos pelo dilúvio. Ao contrário da vizinha, Graça Morais tem seguro da casa, mas ainda não sabe o que será pago pela companhia.
"Veio tudo ajudar, mesmo da Câmara vieram logo com máquinas para tirar a pedra e andaram aqui até de madrugada", afirmou Graça Morais explicando que mesmo com um sistema de drenagem eficaz, "não havia nada que desse vazão a tanto granizo".
"Isto foi uma fracção de segundos, foi um caos", relatou, fazendo alusão às cheias que aconteceram na ilha da Madeira, calamidades que "só acontecem aos outros". Apesar de os estragos não serem comparáveis, o susto foi igualmente aterrador.
Ontem de manhã, os moradores deste bairro faltaram aos empregos para poderem limpar as casas, tarefa que se mostrou cada vez mais demorada, pois a cada objecto que deslocavam descobriam mais um recanto com lama ou com restos de saraiva.

Idosa com gelo
pela cintura
O marido de Graça, João Morais, conseguiu salvar uma idosa com quase 90 anos que morava na casa contígua à sua. Bombeiro de profissão, João Morais já tem alguma experiência em lidar com situações de perigo mas, deste tipo, são raras, se não mesmo inexistentes, em Santa Comba Dão.
O bombeiro arrombou a porta da vizinha e encontrou-a no interior da casa, encostada à porta que dá acesso ao terraço. A idosa estava imóvel, a gritar e prestes a entrar em hipotermia, pois tinha gelo até à cintura. "Se o meu marido não tivesse lá ido ela morria ali, coitadinha", assegurou Graça Morais. Depois de ter sido assistida no local, a mulher foi encaminhada para casa de um filho onde ainda permanece.

Autarquia
vai ajudar
Os estragos concentraram-se neste bairro social, tendo afectado cinco ou seis casas com mais gravidade. O presidente da Câmara Municipal de Santa Comba Dão, João Lourenço, garantiu que o município vai ajudar no que for possível.
As famílias mais carenciadas podem contar com o apoio do gabinete de acção social, contudo os particulares serão apenas auxiliados no sentido "de saber quais os apoios que há para estas situações".
"Houve alguns estragos, não tantos como a calamidade fazia supor. Foi um pouco por todo o concelho mas o granizo concentrou-se no bairro social", apontou o autarca que percorreu o concelho ontem de amanhã para avaliar os prejuízos, mas não quis avançar com valores.
Na cidade, parte dos serviços pararam ontem de manhã devido à falta de energia eléctrica que foi restituída antes da hora de almoço.

DV