Uma nova terapia para os casos mais graves de melanoma, apresentada em Chicago, aumenta em 40% os meses de vida de doentes em fase avançada. Portugal participou na investigação.
Um novo tratamento que utiliza um anticorpo chamado ipilimumab aumenta significativamente a vida dos doentes com a forma mais agressiva de cancro da pele, melanoma, já em estado avançado. O medicamento só será lançado dentro de um ano, mas já convenceu médicos portugueses e foi testado em ensaios no Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa.
"Destina-se apenas a pacientes numa fase muito avançada, mas melhora substancialmente a taxa de sobrevida", acredita João Belo Amaro, da Sociedade Portuguesa de Dermatologia e membro do Programa Euromelanoma. "Ainda são resultados modestos, mas em relação ao que já existia é muito bom. Pode estar a apontar um caminho para uma possível cura."
São animadoras as conclusões do ensaio clínico, publicado a 5 de Junho no New England Journal of Medicine e apresentado no mesmo dia Congresso da American Society of Clinical Oncology (ASCO), em Chicago, EUA: dois anos após o início do tratamento, 24% dos 670 doentes tratados com o anticorpo ainda estavam vivos, contra 14% dos pacientes de outro grupo.
O tempo de sobrevivência médio foi de dez meses nos doentes tratados com ipilimumab, contra seis meses para aqueles que receberam terapias convencionais.
"É um medicamento promissor, uma esperança para os pacientes com melanoma que já criou metástases, mas sem entrar em exageros", indica a oncologista Maria José Passos, que também participou na investigação, ao acompanhar dois doentes do IPO, que, apesar dos bons resultados, acabaram por morrer. "É preciso mais investigação, mas os avanços da ciência básica permitem compreender melhor a doença e vão ajudar a que apareçam, num futuro próximo, mais medicamentos para ensaiar e estudar nesta área."
Esta é também uma esperança para milhares de portugueses, como Francisco Pato, de 60 anos, a quem foi diagnosticado um melanoma metastizado há oito. "Estou a ser acompanhado no IPO e para já está tudo bem, mas não pensava duas vezes em me submeter ao tratamento em caso de necessidade. Todas as novas descobertas que aumentem a esperança de vida são muito positivas", garante (texto ao lado). No País surgem todos os anos 800 novos casos deste cancro.
O melanoma é dos poucos cancros em que a curva de mortalidade continua a crescer, não havendo, para já, tratamento que inverta a tendência. "A taxa de incidência continua a subir, sobretudo nos mais novos, entre os 30 e os 40 anos. O número de pessoas que acabam por morrer também", sublinha António Picoto, presidente da Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo.
Cerca de 20% dos doentes morrem até cinco anos depois do diagnóstico. "Queremos aumentar-lhes o tempo de vida e este é um avanço encorajador para a investigação na área de imunologia do cancro", sublinhou ao DN Axel Hauschild, dermatologista da Universidade de Kiel, na Alemanha, e um dos investigadores.
"Ao contrário da maioria das terapias que procuram matar as células cancerígenas, este anticorpo estimula as células T, que assumem um papel fundamental na resposta imunocelular. Ou seja, células boas que se apoderam do tumor, combatendo-o", acrescentou ao DN Caroline Robert, do Instituto de Cancro Gustave Roussy, em França.
Nos ensaios clínicos, o ipilimumab foi injectado nos doentes uma vez de três em três semanas. Ao final de 12 semanas, o tumor tinha crescido em volume "porque tinha reunido células boas e más", refere a médica, mas ao final das 16, "o tamanho estava muito reduzido, porque o sistema imunitário tinha começado a responder, aniquilando as células cancerígenas".
No entanto, o diagnóstico precoce é sempre a melhor arma, dizem os clínicos. E pode significar a diferença entre a vida e a morte.
O tratamento é normalmente cirúrgico, porque "infelizmente a quimioterapia no melanoma não funciona muito bem", diz António Picoto. "O importante é que se faça um rastreio anual e em consultórios médicos especializados e não em médicos de família ou na farmácia", alerta também a dermatologista Vera Monteiro Torres.
DN
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