Ex-líder reenquadrou, em 2002, 'O Partido com Paredes de Vidro' à luz de nova realidade.
"Uma importante referência autocrítica." Assim assume Álvaro Cunhal, no prefácio escrito em Janeiro de 2002 ao seu livro O Partido com Paredes de Vidro, o facto de na edição inicial, datada de 1985, se referir como sendo "previsível, num tempo histórico relativamente curto, talvez ainda no século XX, a vitória do socialismo sobre o capitalismo na competição entre os dois sistemas".
O líder histórico comunista lembrava que, em 1985, acolhia a ideia de que o avanço revolucionário mundial "era irreversível", assumindo no prefácio de 2002 que "a verdade é que o capitalismo não 'perdera a iniciativa histórica' e não entrara na época da sua agonia" como então antevia.
Álvaro Cunhal frisa que o próprio ensaio de 1985 "apresentava desenvolvidos elementos que desmentiam o errado optimismo" com que então perspectivou a evolução do mundo.
Por outro lado, Cunhal lembra que já em 1985 o livro tinha uma "abordagem da situação e da evolução de partidos comunistas de países socialistas" e já "apontava tendências susceptíveis de pôr em perigo o futuro das sociedades socialistas em construção".
Mais de uma década depois da queda do Muro de Berlim, o mais marcante secretário-geral do PCP quis clarificar a necessidade de se ler a sua obra de maior densidade ideológica à luz de um espírito autocrático, uma vez que "a perspectiva apresentada no ensaio era a de que, "no século XX, continuariam até à vitória final as vitórias do socialismo na competição com o capitalismo".
Álvaro Cunhal frisa, contudo, que este facto não "desmente a afirmação de que o capitalismo está roído por insanáveis contradições internas e continua a mostrar-se incapaz de responder às legítimas aspirações económicas, sociais, políticas e culturais da humanidade".
Vinte e cinco anos após a sua primeira edição, o PCP vai disponibilizar hoje este livro em formato digital no seu sítio na Internet - www.pcp.pt -, uma iniciativa integrada no ciclo "Álvaro Cunhal : uma vida dedicada aos trabalhadores e ao povo, ao ideal e projecto comunistas".
Uma edição a que o DN teve acesso e cuja principal mais-valia é este prefácio de 2002, que serve de guião a uma leitura do livro à luz de uma nova realidade histórica.
Amanhã, o PCP organiza um debate sobre a obra de Cunhal, com a participação do actual secretário-geral, Jerónimo de Sousa.
Vinte e cinco anos depois e já na sua sexta edição, a obra de Álvaro Cunhal é apresentada como "uma das mais significativas e valiosas contribuições de sempre sobre as características do Partido Comunista, a partir da experiência do PCP, sobre o ideal e o projecto comunistas".
DN
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