No Castanheiro do Vento ter-se-á erguido "uma grande torre" há quatro ou cinco mil anos.
As escavações arqueológicas no Castanheiro do Vento, concelho de Vila Nova de Foz Côa, estão a revelar uma colina monumentalizada com um possível observatório, afastando a ideia de se tratar de povoados fortificados da Idade do Cobre.
"O paradigma aqui presente altera a ideia funcionalista de isto serem povoados fortificados", pois os habitantes de então "não construíam estas células para se defenderem, mas como uma fonte de referência identitária no território", afirma Vítor Oliveira Jorge, o arqueólogo responsável pela escavação.
No topo da colina, transformada desde há cinco mil anos "numa espécie de labirinto de construções em forma de flor, como que representando o Cosmos", ter-se-á erguido "uma grande torre, que lembra a de Babel", acredita Vítor Oliveira Jorge.
A comparação parte da ideia de que uma suposta elevação de argila, "assente numa grande estrutura em pedra de xisto", poderá "ter servido de observatório", num local cuja história é hoje desvendada por voluntários de várias línguas e países, disse à Lusa.
Vítor Oliveira Jorge, professor da Faculdade de Letras do Porto, recorda a existência de uma "sociedade sem escrita" que através da construção arquitectónica "quis deixar algo ali que ficasse na memória", num processo "consciente de construção de identidade", sustenta.
"Uma sociedade cuja tensão entre as comunidades certamente existiria mas onde o que estava em causa era um processo de constituição de identidade", diz.
"Era uma população que começava a sentir a necessidade de viver um universo simbólico, numa narrativa colectiva", afirma Vítor Oliveira Jorge, equiparando este processo com "a necessidade que hoje temos em pertencer a agremiações e clubes".
A época em causa - entre três e dois mil anos antes de Cristo - marca o "começo do apego à terra que não existia no Paleolítico" e a "transição para sítios de reunião imponentes", explica o também presidente da Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnografia (SPAE).
"Para aqui, sobretudo, trazia- -se coisas", referindo os milhares de moinhos manuais, percutores de pedra, machados polidos ineficientes e milhares de fragmentos cerâmicos que ali foram encontrados, afirma.
"Num certo sentido, trata-se de um protomuseu, com protovitrinas, um lugar de memória da época", preconiza Vítor Oliveira Jorge.
A escavação arqueológica supõe uma utilização do local como "mercado, feira ou sítio de troca, de pessoas, de bens e informações, e de reforço dos laços sociais", e não o povoado em si mesmo, acredita.
Desde 1998 que se efectuam escavações neste sítio da freguesia de Horta do Douro, numa cooperação da Universidade do Porto com outras universidades estrangeiras, e o Instituto Politécnico de Tomar, em parceria com a Associação Cultural Desportiva e Recreativa (ACDR) de Freixo de Numão.
DN
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