Há 12 500 anos, a chegada do 'Homo sapiens' ao Novo Mundo levou à extinção de grandes herbívoros, como os mastodontes ou os mamutes, diminuindo as emissões de metano.
Há 13 400 anos o continente americano era um paraíso para mais de uma centena de espécies de herbívoros gigantes, que produziam metano às toneladas com as sua megadigestões. Mas, com a chegada dos primeiros Homo sapiens ao Novo Mundo por essa altura, isso mudou. A caça intensiva que a espécie humana fez a esta megafauna contribuiu para o seu desaparecimento. E a quebra na produção de metano que isso implicou ter-se-á repercutido também numa alteração climática abrupta (de arrefecimento súbito do planeta) que então ocorreu (durou um milénio) e ficou conhecida por Younger Dryas.
Esta é, pelo menos, a tese de um grupo de investigadores coordenados por Felissa Smith, da universidade norte-americana do Novo México, publicada na última edição da Nature Geoscience. De acordo com os investigadores, a influência dos seres humanos no clima terá assim começado bem antes do recente capítulo da revolução industrial, com as suas emissões de gases com efeito de estufa devido à queima dos combustíveis fósseis.
Antes da chegada do homem ao Novo Mundo, aquele era um reino de herbívoros gigantes, com mamutes e mastodontes, preguiças gigantes e camelídeos, que pouco depois se extinguiram. Segundo os cálculos da equipa de Felissa Smith, baseados em extrapolações a partir das emissões dos ruminantes de hoje, toda aquela megafauna emitia anualmente mais de dez milhões de toneladas de metano para a atmosfera, só por fazer a digestão - o metano é, como se sabe, um gás com efeito de estufa.
Mas então, há 12 700 anos, três coisas aconteceram: as concentrações atmosféricas de metano decresceram abruptamente, o planeta sofreu o tal período de mil anos de arrefecimento, denominado Younger Dryas (a temperatura média caiu sete graus centígrados) e mais de 114 espécies de herbívoros gigantes desapareceram.
Esta extinção em massa "teve efeitos profundos nas emissões e na concentração atmosférica de metano", explicou a coordenadora da investigação, notando que isso "pode ter desencadeado a súbita alteração do clima". A investigadora sublinha: "Pensamos que a perda desta megafauna poderia explicar entre 12,5 a cem por cento da redução do metano que se observa naquela altura."
A medição da concentração de metano na atmosfera foi realizada a partir de amostras de gelo das calotes polares, que permitem viajar até esses tempos recuados, já que guardam intocada essa memória química do passado. Há 12 500 anos ocorreu uma queda abrupta da concentração de metano na atmosfera de 180 ppbv (partes por milhar de milhão por volume), desencadeando o arrefecimento então verificado.
DN
Sem comentários:
Enviar um comentário