A praia norte do Furadouro, em Ovar, perdeu num ano cerca de 150 metros de areal, o que a autarquia atribui a uma mudança na direcção das correntes e um especialista na matéria diz dever-se sobretudo a 10 anos de erros urbanísticos, noticia a Lusa.
A largura da praia vem diminuindo desde 2006, quando a zona exibia 150 metros de areia entre a marginal e a rebentação das ondas, mas a quase totalidade dessa extensão desapareceu neste inverno e esta semana o areal tinha apenas dois a três metros nas áreas mais estreitas e 20 a 30 nas mais largas.
Para Manuel Alves de Oliveira, presidente da Câmara de Ovar, «este é o caso mais premente do município e tem origem na alteração do sentido das correntes, o que já provocou estragos nos muros da marginal».
Para Veloso Gomes, que coordena a parceria entre a Faculdade de Engenharia do Porto e o Instituto da Água (INAG), «não vale a pena estar com desculpas - a situação grave que se está agora a viver deve-se a 10 anos de erros acumulados em termos de urbanismo».
Intervenção em 2009
Manuel Alves de Oliveira afirma que «o excepcional nesta situação é que a praia do Furadouro sempre teve muito areal». Quando as correntes vinham de Norte, «o mar acumulava sempre areia entre o esporão e a marginal; agora, que passaram a ser de Sudoeste, o mar vem de Sul e leva a areia toda».
O autarca garante que a zona foi intervencionada em 2009 e que, «se não fosse por essas obras, este ano tinha sido uma tragédia», mas reconhece também que, «por causa da alteração nas correntes, esses trabalhos acabaram por revelar-se insuficientes».
Veloso Gomes defende que «não é por acaso que este problema tanto se tem verificado na Madeira e no Algarve». Como os temporais de Inverno «vieram de Sul e Sudoeste, áreas da costa oeste que foram estáveis durante anos viram agora a sua situação inverter-se».
Veloso Gomes realça, contudo, que acima do esporão norte do Furadouro, junto à marginal edificada da praia, «não se desenrolaram trabalhos de reabilitação dos esporões e defesas aderentes».
«Só se recuperou uma defesa que tinha mais de 10 anos» e cuja construção inicial já foi desajustada, porque a marginal foi criada em 1996 sem uma estrutura longitudinal de reforço e o murete que remata a obra também ficou «sem fundação adequada».
Intervenções posteriores «remediaram a situação», mas, para Veloso Gomes, o aparecimento de novas construções urbanas - que desrespeitam as orientações do ordenamento costeiro, mas têm o aval dos tribunais - «só fazem adiar o problema».
Prioridade
Manuel Alves de Oliveira admite que «tudo tem que ser refeito de forma a garantir a segurança das pessoas» e aguarda a aprovação de uma nova candidatura do INAG e da Administração da Região Hidrográfica do Centro ao Programa Operacional de Valorização do Território.
Para Veloso Gomes, a prioridade é recuperar o areal de forma natural ou artificial: «Se isso não acontecer, vamos ter uma situação muito grave, porque as estruturas de defesa da costa também precisam de areia, já que estão assentes sobre ela».
A médio e longo prazo, o objectivo é mais abrangente: «Temos que decidir o futuro da costa. As coisas estão sempre a piorar e estes são casos muito difíceis, mas ainda não esgotámos todas as soluções».TVi24
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