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Radio Viseu Cidade Viriato
sábado, 31 de julho de 2010
População de Parada de Gonta continua em sobressalto
Um manto de cinzas e um cheiro intenso a queimado cobrem Parada de Gonta, uma freguesia do concelho de Tondela que foi fustigada pelas chamas na segunda-feira. Naquela localidade não há memória de um incêndio tão arrasador e houve muitas pessoas que viram as suas casas em risco
"Não dava este jardim por dinheiro nenhum e agora fiquei com tudo queimado. Não é pelas flores nem pelas árvores porque voltam a rebentar, é o gosto que temos nas coisas. É uma tristeza", lamentaram Manuel Cunha e Guilhermina Almeida que viram o fogo chegar-
-lhe à porta de casa na passada segunda-feira.
Estes moradores de Parada de Gonta, no concelho de Tondela, viveram momentos angustiantes quando viram o fogo aproximar-se da sua habitação sem conseguirem fazer muito para o evitar. A mangueira de regar o jardim foi servindo para molhar a casa, numa tentativa de salvar os bens que o incêndio ameaçava consumir.
Mesmo assim, as chamas queimaram por completo o jardim e uma parreira carregada de cachos, ambos encostados à casa, e o calor fez com que uma persiana encolhesse. "Há três anos que não tínhamos vinho nesta parreira. Este ano, andávamos com todos os cuidados, já tínhamos feito várias curas e agora foi-se tudo embora", contou o casal com bastante tristeza.
Guilhermina Almeida disse que o barulho do incêndio "parecia um vulcão". A filha, o genro e os netos vieram da América e ficaram assustados com o cenário que viram. "Metemo-
-nos dentro de casa muito aflitos e depois quando abri a porta da cozinha era lume sobre nós, tudo a arder", lembrou.
Manuel Cunha foi mais corajoso e aventurou-se para tentar proteger a sua propriedade e ajudar os bombeiros no combate às chamas. A família chegou a pensar que o homem tinha morrido no meio do incêndio, mas Manuel Cunha regressou a casa sem problemas, apenas com alguma angústia.
O casal já se tinha queixado ao proprietário do pinhal que está em frente à casa, porque as silvas estavam a torná-lo num local perigoso. "Uns dias antes disse ao dono do pinhal para cortar o mato e as silvas que já atravessavam a estrada, porque se desse aqui um fogo era uma desgraça. Sabe o que é que ele me disse? Para eu os cortar", afirmou indignado Manuel Cunha que também tinha pedido à mesma pessoa para cortar os pinheiros, pois podiam cair sobre a casa, mas a resposta foi igual.
"O meu mato está todo cortado e esta gente com tanto dinheiro não o corta e agora é o que se vê. Foi uma sorte o fogo não ter chegado lá atrás a uns barracões porque se não ficávamos sem batatas, sem lenha, sem nada", acrescentaram.
A residência de Manuel Cunha e de Guilhermina Almeida fica próxima da antiga escola primária que também esteve em risco de ser destruída pelo incêndio.
População sem telefone
Parte da localidade de Parada de Gonta ficou sem linha telefónica durante a tarde de segunda-feira e o dia de terça-feira, depois de os fios terem ardido. Alguns residentes referiram que o sinal dos telemóveis também era fraco, o que estava a prejudicar as chamadas de alerta para os bombeiros aquando dos reacendimentos, que foram muitos na terça-feira.
Casa de turismo rural
em perigo
Quem também viu a sua casa perto de ser consumida pelas chamas foi um casal de ingleses, que vive em Parada de Gonta há cinco anos. "Foi muito assustador. Já houve um incêndio aqui há quatro anos mas nada como isto", disse Hugh Forestier-Walker, ainda em sobressalto, pois momentos antes de ter falado com o Diário de Viseu tinha havida uma activação do incêndio próximo da sua casa - a Quinta dos Três Rios - que requalificou para turismo rural.
Desde que viu as chamas consumirem parte de uma palmeira que tem no jardim da residência e uma encosta que andava a ajardinar para embelezar o empreendimento, Hugh passou os dias a molhar o espaço, não fosse o fogo atacar de surpresa. A esposa, Jane Forestier-Walker, relatou que viveu momentos de muita aflição e que na noite de segunda-feira ia à janela de duas em duas horas para ver se estava tudo bem.
"Os bombeiros foram fantásticos porque cercaram a casa e impediram que o fogo chegasse mais perto. Por sorte, a casa ficou intacta", elogiou o casal. Também eles ficaram sem televisão por cabo, telefone e internet, o que, segundo Hugh Forestier-Walker, pode prejudicar os negócios.
"Felizmente não arderam as vinhas porque temos o cuidado de cortar a erva. Temos aqui vinhos de qualidade e todos os anos fazemos 500 litros de vinho, mas houve muitas pessoas que ficaram sem as suas vinhas", lamentou. Hugh e Jane criticaram o facto de as mimosas e de alguns pinheiros estarem muito próximos das casas e prestes a cair sobre elas: "As pessoas não querem saber, quando não é perto das suas casas não pensam em limpar".
Apesar de os bombeiros terem montado o posto de comando no centro de Parada de Gonta durante segunda e terça-feira, a população continuava sobressaltada e assim irá permanecer nos próximos dias, enquanto o calor estiver para ficar e o risco de incêndio for grande.
DV
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