WikiLeaks, que divulgou relatórios secretos sobre os EUA no Afeganistão, fez o mesmo à guarda no Iraque.
Documentos secretos produzidos pela GNR na Guerra do Iraque em 2004, que ainda se encontram em sigilo militar, foram disponibilizados no site WikiLeaks, o mesmo que divulgou recentemente relatórios classificados sobre a intervenção dos EUA no Afeganistão.
Relatos sobre a Al-Qaeda, acções das "secretas" iranianas (ver texto em baixo), fotografias de munições de organizações terroristas, croquis de morteiros e até referências a opções políticas de Tony Blair, constam dos documentos classificados a que DN acedeu ontem na Internet.
O porta-voz oficial da GNR desvaloriza esta "fuga de informação" inédita de material classificado e garante até que a GNR "teve conhecimento" que os documentos estavam perdidos na Rede "desde o início de 2009". Mas a gravidade da situação resultou, segundo a mesma fonte, numa análise à lupa do conteúdo dos relatórios.
Porém, foi concluído que, "uma vez que já passaram seis anos dos acontecimentos, estes não contêm informações estratégicas especialmente relevantes". E acrescenta: "Quando os documentos foram para a Web nenhuma das forças envolvidas nesta missão de paz internacional se encontrava ainda no Iraque". No entanto, fica por saber a data exacta em que os relatórios foram "sacados" ao oficial , que organizações a eles tiveram acesso e até que ponto isso não comprometeu a missão internacional.
O DN soube que os relatórios em causa foram produzidos pelo mesmo oficial, um capitão de cavalaria. Este fazia parte de uma célula, designada G2, no Estado- -Maior da MSU (Multinational Specialized Unit) em Nassíria. A sua função era processar as informações recolhidas no terreno pelas "secretas" dos países presentes na operação, relativas às ameaças terroristas e à situação política e social. Os relatórios consistem numa síntese da análise feita pelas "secretas" inglesas e italianas que tinham agentes no terreno, uma vez que Portugal não destacou "espiões" para solo iraquiano. O oficial da GNR limitava-se a traduzir e resumir as informações produzidas e que eram partilhadas na célula G2 do Estado-Maior.
Segundo o porta-voz da GNR, ao ter tomado conhecimento da "fuga", o comando-geral ordenou uma averiguação para saber que falhas podiam ter havido nos procedimentos de segurança, por parte do oficial, que levassem os documentos tivessem sido desviados e depois divulgados. "Nada foi detectado que comprometesse a acção do oficial", assegura a GNR.
Os documentos não fazem qualquer análise à missão portuguesa e esse facto tranquilizou quer a GNR, quer o próprio Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED) que também foi envolvido na avaliação dos danos que o conhecimento público destes relatórios podiam ter para Portugal. A única referência que é feita à força da GNR, o subagrupamento Alfa, é sobre a inactivação de um carro-bomba a sul de Nassíria. Foi no dia cinco de Novembro, de 2004, às 08.14. Uma patrulha italiana detectou uma viatura parada suspeita e chamou a equipa de inactivação de explosivos da GNR, a única força da MSU que tinha esta valia. No local confirmou que se tratava de um carro-bomba, prestes a explodir numa zona movimentada. Os militares portugueses desactivaram e retiraram os explosivos. Nos EUA, a divulgação pela WikiLeaks de documentos secretos sobre a operação militar no Afeganistão está a causar polémica, pelas descrições de mortes de civis. (ver pág. 28). Os ministérios da Defesa e da Administração Interna não quiseram comentar o assunto.
DN
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