Paleobotânico Mário Miguel Mendes, investigador da Universidade Nova e professor na Universidade de Évora, descobriu fósseis de plantas que existiram por aqui no Cretácico Inferior.
Mário Miguel Mendes trabalha com fósseis que são do tamanho de grãos de areia, alguns mais pequenos ainda. Só ao microscópio é possível ver-lhes o rosto verdadeiro do que são: sementes, esporos, pequenas flores e pólens de plantas que existiram há mais de 135 milhões de anos. Graças à sua persistência, o jovem paleobotânico, de 38 anos, conta já no currículo com a descoberta de três novas espécies e um novo género de plantas que existiram por aqui durante o Cretácico Inferior, entre há 146 milhões e 100 milhões de anos.
Com os estudos sobre aqueles fósseis, Mário Mendes está a tentar traçar um retrato mais nítido de como a flora evoluiu naquela época recuada, para se tornar no que é hoje. Mas há muito de brumoso nesse pedaço da história da vida vegetal. Só mesmo encontrando fósseis, por diminutos que sejam, será possível ajustar o puzzle da evolução das plantas. É isso que o jovem investigador português está a tentar fazer.
Durante a era Mesozóica - que se iniciou há 251 milhões de anos e se estendeu até há 66 milhões de anos - o planeta conheceu muitas mudanças e as espécies que aqui se sucederam também.
Falemos das plantas. Primeiro reinavam as que não tinham flor, as gimnospérmicas, mas uma combinação de mudanças no clima e de violentos movimentos tectónicos ditou o fim de muitas delas.
"Desapareceram grandes grupos de vegetais e desenvolveram-se as plantas com flor, ou angiospérmicas", explica Mário Miguel Mendes, que é docente da Universidade de Évora e investigador do Centro de Investigação em Ciência e Engenharia Geológica (CICEGe) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.
São estas angiospérmicas, ou plantas com flor, "que dominam actualmente a vegetação terrestre", sublinha o investigador, adiantando que elas hoje "ocupam praticamente todos os ecossistemas, representando mais de 85 por cento das espécies vegetais vivas". Mas foi ali, durante o período chamado Cretácico, entre há 146 milhões de anos e 66 milhões de anos, que se viveu um momento essencial para a evolução das plantas. Como diz Mário Mendes, "está aí enraizada a vegetação actual". É esse período, portanto, que o investigador está a estudar. Os fósseis são o caminho directo para lá. "É impossível perceber o que se passou em termos florísticos no passado sem recorrer a registos fósseis".
Quando se lançou a estudar a questão, com o seu orientador de doutoramento, o paleobotânico e investigador do CICEGe João Pais, Mário Mendes tinha por objectivo comparar os fósseis de plantas sem flor do Cretácico com as características das plantas que são hoje as suas descendentes mais directas: as gimospémicas actuais que não produzem flor.
Foi para o terreno, recolheu, tratou e começou a analisar o material recolhido, e acabou por perceber que havia ali algo mais importante: a descoberta de espécies novas com 135 milhões de anos. Ou seja, abria-se a possibilidade de acrescentar peças novas ao quadro da evolução da vida vegetal no Cretácico e de tentar perceber como as plantas com flor acabaram por suplantar as outras.
Agora é para aí que está apontado. No material que continua a recolher no campo - calcorreia o País entre Torres Vedras e Aveiro para recolher amostras - não tem dúvidas que há outras espécies novas que só estão agora à espera de ser descritas.
DN
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