Os japoneses estão no topo da longevidade. Com esta, estão a surgir outros problemas - um dos mais graves é o número de idosos desaparecidos, que não cessa de aumentar e cujo paradeiro permanece uma incógnita décadas a fio, ou as fraudes relacionadas com as suas pensões
OJapão tem oficialmen- te 40 400 centenários. Que podem ser umas tantas centenas a menos. Isto porque muitos estão desaparecidos há décadas, sem registo da sua morte ou notícia do seu destino. A história de Sogen Kato (ver caixa) trouxe para as primeiras páginas dos jornais nipónicos o estranho caso dos centenários desaparecidos.
O caso assumiu tal proporção que as autoridades lançaram uma operação de busca a nível nacional dos idosos desaparecidos. Números oficiais indicam que mais de 200 daqueles 40 400 estão em paradeiro incerto. O que num país possuidor da mais elevada expectativa média de vida - 86,4 anos para as mulheres e 79,6 anos para os homens - veio levantar suspeitas de fraude por parte das famílias. Isto porque todas as prestações sociais são pagas, a não ser que seja comunicada a morte do beneficiário. Não estando estes obrigados a prova de vida... podem viver para sempre. O que se torna uma tentação para familiares menos idóneos.
Numa tentativa de controlar os abusos, na cerimónia do Dia de Respeito pelos Idosos (21 de Setembro), em que todos os que cumprem cem anos recebem uma taça de prata e uma carta de parabéns do chefe do Governo, os distinguidos terão de estar presentes ou, em alternativa, recebê-los em mão de representantes oficiais.
Parte do problema assenta numa questão de cultura: o respeito pela privacidade individual. Que vai desde a inexistência de um número de segurança social ao facto de os funcionários públicos não poderem entrar em casas particulares, se os residentes objectarem. O respeito atávico pela privacidade explica, pelo menos parcialmente, o facto de as autoridades não sentirem a necessidade de contactarem as pessoas de provecta idade.
Devido a esta atitude, em 2005, após ser dada como morta uma idosa cujo paradeiro era desconhecido há mais de 40 anos, foi feita uma actualização dos centenários: mais de 50 estavam mortos.
O caso de Kato não é único. Dias depois, a segurança social de Tóquio descobriu que Fusa Furuya, uma idosa de 113 anos, não tem paradeiro conhecido desde 1986! Aqui não há prova de fraude. A família limita-se a dizer que não sabe onde está. O que pode ser verdade. A residência, onde a idosa viveria com uma outra familiar, há muito que foi demolida para dar lugar a uma avenida.
O caso da centenária de Tóquio tem equivalente numa idosa de Kobe, eventualmente com 125 anos, cuja última morada conhecida é hoje a do portão de entrada de um parque da cidade. Ou ainda naquele residente de Osaka que, tendo morrido há 44 anos, permanecia vivo nos registos do lugar de residência porque a morte foi declarada no bairro do hospital para onde foi tratado.
Estas situações resultam ainda das alterações na pirâmide etária e nos modos e comportamento. Os japoneses com mais de 65 anos são hoje 23% do total da população enquanto a faixa dos menores de 15 atingiu o valor mais baixo de sempre, representando apenas 13% da população. Por isto, se até há poucas gerações, os idosos viviam em casa dos filhos ou netos, esta é uma tradição em declínio.
Os centenários estão condenados a viverem sozinhos, porque os seus filhos já morreram ou porque nem têm descendência. Outros preferem afastar-se das famílias e estas preferem esquecê-los.
Nos artigos sobre o tema, desde a descoberta do caso Kato, é notado que o suicídio, a violência e o alcoolismo estão a aumentar entre os idosos. Um investigador concluía que tudo isto "demonstra a deterioração das relações no interior das famílias e entre vizinhos no Japão da actualidade". Um diagnóstico que pode estender-se a boa parte do mundo ocidental.
Muitos dos idosos desaparecidos nunca serão encontrados. Um dos principais jornais japoneses, o Asahi Shimbun, recordava há dias que são comunicados por ano cerca de 80 mil desaparecimentos no país e, no mesmo período de tempo, são encontrados mais de mil corpos num estado de decomposição que não permite identificação.
Tristemente, alguns destes corpos serão dos "imortais", que, talvez, nem tenham chegado aos cem anos.
O caso assumiu tal proporção que as autoridades lançaram uma operação de busca a nível nacional dos idosos desaparecidos. Números oficiais indicam que mais de 200 daqueles 40 400 estão em paradeiro incerto. O que num país possuidor da mais elevada expectativa média de vida - 86,4 anos para as mulheres e 79,6 anos para os homens - veio levantar suspeitas de fraude por parte das famílias. Isto porque todas as prestações sociais são pagas, a não ser que seja comunicada a morte do beneficiário. Não estando estes obrigados a prova de vida... podem viver para sempre. O que se torna uma tentação para familiares menos idóneos.
Numa tentativa de controlar os abusos, na cerimónia do Dia de Respeito pelos Idosos (21 de Setembro), em que todos os que cumprem cem anos recebem uma taça de prata e uma carta de parabéns do chefe do Governo, os distinguidos terão de estar presentes ou, em alternativa, recebê-los em mão de representantes oficiais.
Parte do problema assenta numa questão de cultura: o respeito pela privacidade individual. Que vai desde a inexistência de um número de segurança social ao facto de os funcionários públicos não poderem entrar em casas particulares, se os residentes objectarem. O respeito atávico pela privacidade explica, pelo menos parcialmente, o facto de as autoridades não sentirem a necessidade de contactarem as pessoas de provecta idade.
Devido a esta atitude, em 2005, após ser dada como morta uma idosa cujo paradeiro era desconhecido há mais de 40 anos, foi feita uma actualização dos centenários: mais de 50 estavam mortos.
O caso de Kato não é único. Dias depois, a segurança social de Tóquio descobriu que Fusa Furuya, uma idosa de 113 anos, não tem paradeiro conhecido desde 1986! Aqui não há prova de fraude. A família limita-se a dizer que não sabe onde está. O que pode ser verdade. A residência, onde a idosa viveria com uma outra familiar, há muito que foi demolida para dar lugar a uma avenida.
O caso da centenária de Tóquio tem equivalente numa idosa de Kobe, eventualmente com 125 anos, cuja última morada conhecida é hoje a do portão de entrada de um parque da cidade. Ou ainda naquele residente de Osaka que, tendo morrido há 44 anos, permanecia vivo nos registos do lugar de residência porque a morte foi declarada no bairro do hospital para onde foi tratado.
Estas situações resultam ainda das alterações na pirâmide etária e nos modos e comportamento. Os japoneses com mais de 65 anos são hoje 23% do total da população enquanto a faixa dos menores de 15 atingiu o valor mais baixo de sempre, representando apenas 13% da população. Por isto, se até há poucas gerações, os idosos viviam em casa dos filhos ou netos, esta é uma tradição em declínio.
Os centenários estão condenados a viverem sozinhos, porque os seus filhos já morreram ou porque nem têm descendência. Outros preferem afastar-se das famílias e estas preferem esquecê-los.
Nos artigos sobre o tema, desde a descoberta do caso Kato, é notado que o suicídio, a violência e o alcoolismo estão a aumentar entre os idosos. Um investigador concluía que tudo isto "demonstra a deterioração das relações no interior das famílias e entre vizinhos no Japão da actualidade". Um diagnóstico que pode estender-se a boa parte do mundo ocidental.
Muitos dos idosos desaparecidos nunca serão encontrados. Um dos principais jornais japoneses, o Asahi Shimbun, recordava há dias que são comunicados por ano cerca de 80 mil desaparecimentos no país e, no mesmo período de tempo, são encontrados mais de mil corpos num estado de decomposição que não permite identificação.
Tristemente, alguns destes corpos serão dos "imortais", que, talvez, nem tenham chegado aos cem anos.
DN
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