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sábado, 12 de junho de 2010

Portugueses estão a desaparecer

Portugal desceu abaixo dos cem mil nascimentos, o que acontece pela primeira vez. E morrem muitos mais.

Portugal registou menos de cem mil nascimentos em 2009, o que acontece pela primeira vez desde que há estatísticas, 1900. E aumenta o número de mortes. Isto significa que a população portuguesa pode desaparecer? "Há esse risco se não se inverter a tendência. E a taxa de natalidade vai baixar, ainda, mais em 2010 e 2011", diz o sociólogo Leston Bandeira.

As Estimativas da População de 2009, ontem divulgadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), não surpreenderam Leston Bandeira, que há muito previa uma descida significativa da natalidade, dada a crise económica que se vive actualmente no País. "A taxa da natalidade é um indicador económico, em especial em países com pouca protecção social, como é o caso de Portugal. Há um certo declínio social, cuja consequência é o declínio demográfico", justifica.

O saldo natural da população portuguesa é negativo desde 2007 e a pequena diferença positiva registada em 2008 é considerada "acidental". "São variáveis puramente acidentais e culturais e só a médio prazo se podem tirar conclusões. Pela primeira vez, houve um saldo negativo em 2007, agravou-se em 2009 e será, igualmente, negativo em 2010 e em 2011", alerta o perito em demografia. Isto apesar do forte contributo dos imigrantes para a taxa de natalidade. E o saldo da população só é positivo porque entraram mais estrangeiros do que os portugueses que saíram o ano passado.

A diminuição de nascimentos foi mais abrupta em 2009 do que em anos anteriores, menos 5% relativamente a 2008. E o Índice de Fecundidade (crianças nascidas por mulheres em idade fértil) baixou de 1,37 para 1,32. Números ponderados, significa que a taxa de reprodução é de 0,644, quando o mínimo exigido para a substituição de gerações é de 1.

As gerações actuais são cada vez mais pequenas e têm cada vez menos filhos. "É um efeito em cadeia. A situação não se inverte com a criação de subsídios ou o aumento do número de dias da licença de maternidade, mas com medidas para a conciliação da vida familiar e profissional, menos desemprego, uma maior estabilidade laboral e o incentivo à participação dos homens. E o que acontece, actualmente, é que os jovens não têm emprego e as mulheres são despedidas por estarem grávidas", critica Leston Bandeira, professor do Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa e coordenador do estudo do envelhecimento da população portuguesa desde 1950 (Instituto do Envelhecimento).

Portugal é um dos 27 países da UE mais envelhecido, já que se assiste a um duplo envelhecimento: nascem menos crianças e aumenta a esperança de vida à nascença. Existem 118 idosos por cada 100 jovens e os activos passaram de 67,1% da população (2008) para 66,9% (2009). A descida significativa do número de nascimentos poderá levar a que a UE reveja as projecções demográficas para o País, segundo o sociólogo. As projecções do Eurostat até 2035 indicam um crescimento moderado, o que se deve à imigração.

DN

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