Os sinos da capela tocaram a rebate, as flores foram compradas e até o agente funerário afixou por toda a freguesia de Rio Meão, Santa Maria da Feira, os avisos da morte de Adélia Reis, 82 anos. Afinal, a mulher está viva e internada no Hospital S. Sebastião.
Os familiares largaram repentinamente os empregos, vestiram-se de negro e choraram a morte do ente querido. Mas, cerca de quatro horas depois, um telefonema do hospital interrompeu o momento de pesar. Afinal, Adélia Reis estava viva. Houve um tremendo equívoco, cujos contornos ainda estão por esclarecer.
A confusão começou na manhã de anteontem, quando um filho (que não falou ao JN) foi visitar a idosa. Deslocou-se à cama onde deveria estar a sua mãe e sentiu que o corpo que ali se encontrava estava gelado. Nessa altura, foi informado por uma enfermeira que a mãe tinha morrido. Consternado, deixou de imediato o hospital e informou os restantes familiares. E foi dado início ao processo para o funeral. Segundo o hospital, a pessoa no quarto não era Adélia, como afirma a família.
“A família contactou-me para fazer o funeral e tratei de tudo. Andei a distribuir os papéis com a hora e dia do funeral pela freguesia, foi pedido para tocar os sinos da capela e mandei os meus colaboradores para o hospital para trazerem o corpo. Mas a certidão nunca mais chegava e acabámos por aperceber-nos que a senhora estava viva” contou ao JN o responsável pela funerária Henriques. Informação que, entretanto, também já tinha sido comunicada à família.
O engano causou revolta. Os netos de Adélia foram ao hospital, mas dizem não ter ficado agradados com as explicações. ?Os responsáveis do hospital pediram desculpas, mas recusaram passar uma declaração assumindo o erro?, lembrou Rui Lemos.
“Serviria para entregarmos aos patrões e justificarmos as faltas nos empregos. Mas queriam apenas passar um atestado em como estivemos no hospital”, acrescentou. Os familiares colocaram o seu protesto no livro de reclamações.
A indignação é ainda maior pelo facto de terem recebido um telefonema de alguém que lamentava a falta dos familiares no horário da visita. “Ligaram-nos de um telemóvel a dizer que era do hospital e a perguntar por que é que ninguém ia visitar a minha tia. Os responsáveis do hospital dizem ser estranho, mas nós temos registado o número de quem ligou”, sublinhou um familiar.
“Foi uma falha grave, principalmente por demorarem tanto tempo a darem pelo erro”, acrescentou outro neto, Laurentino Gomes
Hospital admite que pode ter havido um erro de ambas as partes
“Não houve um caso de troca de cadáveres”. A ressalva, imediata, é do presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga (tutela o Hospital de S. Sebastião, na Feira), Fernando Silva.
Contactado pelo JN, o responsável referiu que foi o filho quem “não identificou correctamente a mãe”. Ou seja, de acordo com a versão de Fernando Silva, a pessoa que terá sido indicada ao homem como sendo a sua mãe, não era Adélia Reis. Terá sido essa, então, a origem do problema.
A tese é contrariada por familiares da idosa, que afirmam não ter havido qualquer engano na identificação.
Em declarações ao JN, Fernando Silva admitiu , contudo, que poderá “ter havido erros dos dois lados [hospital e familiar] ”, recusando assumir por enquanto uma posição definitiva.
“Enquanto não tiver as conclusões do inquérito de averiguações que irá decorrer esta semana não posso adiantar mais nada”, afirmou. “Não deixamos no entanto de lamentar esta situação, que compreendemos ser muito desagradável”, concluiu.
JN
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