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terça-feira, 29 de junho de 2010

Guiné-Bissau irrita Europa e EUA

Guiné-Bissau irrita Europa e EUA

Nomeação de António Indjai para chefia militar, sob proposta do Governo, mereceu críticas internacionais.

A nomeação do general António Indjai para a chefia do Estado-Maior das forças armadas da Guiné-Bissau mereceu críticas americanas e europeias, mas estará a ser aceite pelos países vizinhos. Amanhã, realiza-se na capital guineense uma reunião de chefias das forças armadas dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e será ali discutida a situação do país.

Fonte da presidência guineense disse ao DN que a comunidade internacional precisa de "estar consciente da situação da Guiné-Bissau". Segundo este dirigente, o "contexto não é fácil" e "as instituições são extremamente frágeis". Os líderes civis querem garantir a estabilidade e dizem que o "país não pode ser abandonado pelos seus parceiros no momento de maior dificuldade".

Na prática, o general Indjai já chefiava as forças armadas há três meses, mas houve pressões contra a sua nomeação, dadas as suspeitas de envolvimento no narcotráfico e o facto de ter liderado um golpe, a 1 de Abril, que resultou na prisão do seu superior hierárquico, almirante Zamora Induta, que foi exonerado anteontem.

A proposta de nomeação de Indjai foi feita pelo Governo, após negociação entre o general e o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, que regressou à Guiné na semana passada. Indjai e Gomes Júnior têm más relações, que se agravaram a 1 de Abril, quando o primeiro-ministro foi detido durante horas e humilhado pelos militares revoltosos.

O procedimento legal da nomeação do novo chefe de Estado-Maior teria de incluir proposta do governo, seguida de confirmação pelo Presidente da República, Malan Bacai Sanhá, que mediou todo o processo.

Fontes em Bissau garantem que a situação político-militar é agora calma, mas existe enorme incógnita no que diz respeito às relações entre forças armadas e governo. Um dos cenários de futuro passa pelo afastamento de Carlos Gomes Júnior da chefia do partido no poder, o PAIGC, o que permitiria substituir o primeiro-ministro.

Logo após a nomeação, ainda na sexta-feira, o governo americano reagiu com irritação, ameaçando não apoiar a reforma do sector da defesa enquanto não houvesse submissão do poder militar ao poder civil. Washington queria um chefe militar sem ligações ao golpe de 1 de Abril e que pudesse "reconquistar a confiança da comunidade internacional". A posição europeia é semelhante, mas os guineenses dizem que o "abandono" da comunidade internacional só poderá "agravar a situação".

Zamora Induta continua preso em Mansoa e deverá ser julgado por crimes ainda não especificados. A questão do narcotráfico é a que mais preocupa os diplomatas, devido ao seu potencial de desestabilização de toda a região da África Ocidental. Uma das explicações para as divisões das forças armadas tem a ver com os dez anos de alta instabilidade militar na Guiné-Bissau e o conflito latente entre oficiais mais velhos, que combateram na guerra colonial, como é o caso de Indjai, e a geração mais nova, sem essas referências, a que pertence Zamora.

DN

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