A população de Argozelo, no concelho de Vimioso, recebeu com abraços o filho da terra, capitão de um navio pesqueiro espanhol, que esteve sequestrado por piratas na Somália durante mais de quatro meses.
Manuel Teles, 56 anos, nascido naquela vila do concelho de Vimioso, emigrante em Espanha há mais de 20 anos, comandante do navio pesqueiro "Sakoba", mal pisou terras de ibéricas - mais concretamente Vigo, onde reside com os dois filhos - pensou logo em matar saudades da terra natal. Fez-lhe na sexta-feira, uma visita-relâmpago, para abraçar a mãe, com 90 anos, que vive num lar de idosos e continua sem saber que filho esteve sequestrado, porque a população se uniu para a preservar do desgosto. "Tenho de agradecer à gente da minha terra, que resguardou a minha mãe. Temiam que o choque prejudicasse a sua saúde", contou ao JN.
A mãe e a esposa do comandante do outro navio, o Ocean-BT, norueguês, sequestrado na mesma altura que o "Sakoba", não resistiram ao choque e morreram ambas, adiantou Manuel Teles.
O comandante embarcou no "Sakoba" para substituir um colega e foi sequestrado por piratas somalis em Março, juntamente com toda a tripulação, quando regressava a Espanha depois de três meses na pesca.
O cativeiro foi duro. Manuel Teles chegou a temer pela sua vida - "Se te privam da liberdade, é difícil", desabafa. Apesar de não ter sofrido violência física, houve violência verbal e psicológica.
"Os homens que nos vigiavam estavam sempre de metralhadora em punho. Sempre que falavam para nós [sequestrados], principalmente para mim por ser o capitão e ser europeu, faziam-no com muita agressividade", referiu.
Não passou fome, mas os víveres com que o navio saiu de Vigo, programados para quatro meses, terminaram ao fim de um mês de sequestro. "Comíamos o peixe. Os somalis traziam apenas cinco alimentos: arroz, sal, azeite, leite em pó e açúcar. O cozinheiro adaptou-se à situação", lembra. O capitão de Argozelo emagreceu 26 quilos, mas garante que não foi da fome, mas da pressão psicológica e da preocupação.
Mais tarde, os sequestrados foram transferidos para Jader, povoação da Somália onde o exército pirata tinha o quartel, uma estrutura bem montada, com líderes armados. Durante todo o tempo, apenas conseguiu falar duas vezes por telefone com uma tia, que vive em Lisboa. Conseguiu convencer os piratas, por se tratar de um número português.
No dia 19 de Junho, ficou a saber que iam ser libertados, mas o cativeiro prolongou-se por mais um mês, exactamente até 19 de Julho. A libertação foi feita mediante o pagamento de um resgate de cerca de três milhões de euros.
JN
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