'Tejo' e 'Avaril' é o nome das duas crias de abutre-preto que nasceram em Junho, em Portugal. É a primeira vez desde 1970 que esta ave necrófaga nidifica no nosso país. Os cientistas colocaram-lhe rádio transmissores para as poderem seguir por todo o lado... e acreditam que estamos a assistir ao início de uma nova colónia.
Tem um longo pescoço depenado que acaba num bico afiado. É o maior dos abutres europeus. Não é superpredador como a águia; o abutre-preto é necrófago. Mas a proibição de deixar carcaças de animais mortos no campo devido ao controlo de doenças como a BSE (conhecida como a doença das vacas loucas), a acção humana (pela utilização de venenos), o uso de pesticidas e a destruição do habitat de nidificação afastaram o abutre-preto do nosso país. Desde 1970 que a espécie não nidificava em Portugal. Este ano, o abutre-preto voltou a construir ninho em território português e nasceram duas crias que já voam nos nossos céus.
"O abutre-preto nidificou regularmente em Portugal até meados dos anos 60, depois disso apenas na década de 90 houve novas tentativas de nidificação", diz ao DN Eduardo Realinho, da Universidade de Aveiro. Essas tentativas fracassaram. Este ano, três jovens casais instalaram-se no Tejo Internacional e construíram os ninhos em azinheiras.
Os ninhos do abutre-preto chegam a pesar centenas de quilos. Um dos casais que tentou nidificar no Tejo Internacional não teve sucesso e o ninho caiu no início da época de reprodução. Os outros dois realizaram as suas posturas (provavelmente entre Fevereiro e início de Março, como é próprio da espécie), cada uma de apenas um ovo. "Este sucesso deve-se a todo um esforço pela conservação da biodiversidade. Neste caso, as principais acções de conservação têm passado pela implementação de campos de alimentação para aves necrófagas", explica.
No entanto, em Junho, os ninhos ruíram parcialmente e as crias caíram. A Quercus e o Instituto para a Conservação da Natureza e Biodiversidade montaram uma operação de resgate e de reconstrução dos ninhos. Uma das crias, que se encontrava em estado crítico, foi levada para o CERAS - Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens, de Castelo Branco. Depois da recuperação, as crias foram colocadas em plataformas-ninho construídas no local originários dos ninhos, de forma a continuarem a ser criadas pelos progenitores. Os rebentos permanecem no ninho durante 95 a 110 dias. As crias são alimentadas por ambos os progenitores. A espécie é monogâmica e os casais têm relações de longa duração, podendo durar toda a vida.
Samuel Infante, da Quercus, acredita que os casais que vieram nidificar ao Tejo Internacional sejam provenientes de uma colónia de Espanha, pois "a população de abutres-pretos lá tem vindo a aumentar e é normal que eles procurem outro território".
As duas crias portuguesas foram baptizadas de Tejo e Avaril. A 28 de Junho, numa colaboração entre entidades portuguesas e espanholas, as duas crias foram marcadas com um emissor de satélite PTT e um emissor radio tracking convencional, de modo a seguir os seus movimentos e obter informações comportamentais e de dispersão pelo território. "Esperamos que seja o início de uma colónia com futuro", refere Samuel Infante. O ambientalista acredita que, "se não houver problema, para o ano estes abutres estarão no nosso país. E, quem sabe, outros também".
DN
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