O Colégio Americano de Obstetrícia veio agora defender o parto normal, depois de várias cesarianas. Médicos portugueses não concordam e alertam para o risco de ruptura do útero e consequente morte da mãe e do bebé.
Nos Estados Unidos acabou-se com o mito de que depois de duas cesarianas seguidas, o mesmo deve repetir-se à terceira gravidez. O Colégio Americano de Ginecologia e Obstetrícia deu este mês novas orientações aos médicos: a partir de agora, os clínicos têm de tomar em consideração que um parto vaginal depois de uma ou mais cesarianas é a opção segura e mais adequada na maioria dos casos.
Novas regras que visam comba- ter os casos de morbilidade da mãe, as complicações dos fetos e também o aumento de cesarianas, pois, nos EUA, a taxa que era de 5%, em 1970, subiu, em 2008, para os 31%. Mas em Portugal, apesar de ter uma das taxas mais elevadas da Europa (33% em 2008), a classe médica mostra-se irredutível. "Depois de duas cesarianas, a terceira é obrigatória", garante Jorge Branco, da Comissão da Saúde Materna e Neonatal e director da Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, garantindo ser esta a orientação dada.
No protocolo do nosso serviço, depois de cesarianas seguidas, é contra-indicado induzir o trabalho de parto. A norma é seguir para a cesariana programada", responde ainda Ana Rosa Costa, do Hospital de São João, no Porto. Em causa, dizem os médicos, está o risco acrescido de morte tanto da mãe como do bebé, pela ruptura da parede uterina, que eles querem precaver. Isto porque, "depois de duas cesarianas e de duas costuras, a parede abdominal está mais frágil e o rompimento do útero na zona da costura pode acontecer mais facilmente", explica Jorge Branco.
Luís Graça, presidente da Sociedade Portuguesa de Ginecologia, é ainda mais assertivo: "O risco de ruptura quadruplica depois da segunda cesariana", alerta. "Ou seja, esta complicação pode acontecer numa em cada 25 mulheres com duas cirurgias precedentes. São valores que não podem ser negligenciados."
Para a médica do S. João Ana Rosa Costa, nestes casos, apenas se dá seguimento ao parto vaginal quando a mulher entra em trabalho de parto espontaneamente. "Se começar com contracções antes do tempo e a monitorização mostrar que está tudo bem, mesmo com a posição do feto, então avança-se para o parto normal."
Mas as indicações dos médicos portugueses mudam quando se trata apenas de uma cesariana. "É até desejável que, em casos seleccionados e sempre com consentimento informado e assinado pelas grávidas, seja feita uma tentativa de parto vaginal após uma cesariana", sublinha Luís Graça.
Mas há situações que continuam a não permitir um parto normal: "A mulher não deve entrar em trabalho de parto numa segunda gravidez quando a primeira terminou por cesariana devido a incompatibilidade fetopélvica (desproporção entre a dimensão da pélvis e a dimensão ou posição do feto) ou à paragem de dilatação com um feto de peso normal", defende Nuno Montenegro.
Catarina Mateus , de 32 anos, teve os dois filhos de cesariana, por isso, sabe que à terceira terá de fazer outra cirurgia. "Se tiver de fazer outra, estou tranquila. Não estou nada preocupada. Os médicos explicaram-me todos os riscos", diz Catarina, acrescentando que não lhe parece muito diferente da segunda para a terceira.
O segundo filho de Catarina, Diogo, nasceu no passado dia 4 e teve de ser por cesariana, como sucedera com o irmão João, de dois anos. É que Diogo tinha pouco líquido amniótico e era um bebé grande.
Na sua opinião, o pior da cesariana é a recuperação. "Não é muito fácil. Mas já fiz duas e já sei como é." O certo, garante , é que nunca deixaria de ter outro filho por saber que será submetida a outra cesariana, como defendem os médicos portugueses.
DN
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