No País, há cem pessoas que acreditam nas forças da natureza e nos antigos deuses. A última cerimónia foi no Alandroal.
É a crença nas "forças da natureza" e o culto aos antigos deuses não judaico-cristãos que une, em Portugal, cerca de uma centena de membros da Federação Internacional Pagã (PFI).
"Temos cem associados embora muito mais pessoas sigam o paganismo e cumpram rituais sagrados", diz ao DN a sacerdotisa Isobel Andrade, formada em História e coordenadora da PFI Portugal - Associação Cultural Pagã conjuntamente com o marido, Thorg Ferreira.
"Acreditamos nas forças da natureza com os seus ciclos da vida e da morte em eterna renovação, no politeísmo e adoramos os deuses antigos", acrescenta Isobel Andrade, pouco depois de ter participado numa cerimónia destinada a evocar a protecção de Endovélico, divindade venerada desde a Idade do Ferro na Lusitânia e cujo culto teve maior expressão durante o Império Romano, tendo sido construído um templo em São Miguel da Mota, Alandroal, em que foram encontradas numerosas estátuas, inscrições e ex-votos (ver caixa).
"Desde 2005 que fazemos celebrações públicas", garante a sacerdotisa. Este ano, o solstício de Verão foi assinalado junto ao altar do antigo santuário da Rocha da Mina, próximo de São Miguel da Mota, no cimo de uma escarpa sobre a ribeira de Lucefecit. "O que vamos fazer não é um simulacro mas uma cerimónia", começa por explicar Thorg Ferreira, apresentando-se como um "seguidor de velhos ritos". A seu lado, outras seis pessoas, vestidas a rigor, cumprem todos os passos que dizem ser "sagrados" e através dos quais pretendem manter "vivo" o culto a Endovélico. "Por Endovélico, aos espíritos do local deste sacrifício", enuncia Thorg, enquanto parte um pão junto ao altar. Um pouco mais atrás, Isobel Andrade, vestida de vermelho, abre os braços. De seguida serão "convocados" os elementos da natureza como o vento e o sol, invocados os antigos deuses pagãos para pedir paz e prosperidade e, finalmente, é aceso o "fogo sagrado", cujas chamas, garante Thorg Ferreira, iluminavam todos os pontos elevados em torno do santuário.
Ao DN, a coordenadora da Associação Cultural Pagã diz que este tipo de cerimónias se realiza ao longo do ano "por todo o País", mantendo "vivas" as antigas religiões e o culto a divindades como Atégina (deusa da fertilidade na mitologia da Lusitânia), Nabia (deusa dos rios e da água) e Endovélico, cujas cerimónias atraem pagãos vindos de vários países do mundo. "Acreditamos no poder deste local", diz Isobel Andrade.
Denominada "Pagani Celtici Solsticium", a iniciativa constituiu o ponto alto do Festival do Endovélico, que decorreu no Alandroal em Junho e que incluiu uma programação turística e científica, incluindo a realização de um congresso para debater as raízes deste culto ancestral.
O presidente da Câmara de Alandroal, João Coelho, diz que a ideia é divulgar a "herança" histórica de um antigo "Deus da natureza e da saúde, património do nosso imaginário colectivo", que constitui um dos "factores identitários" do concelho apesar de "pouco divulgado" a nível nacional. "É o último segredo do Alentejo", explica.
DN
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