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sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Tutela impede Politécnico de comprar património à Católica



OInstituto Superior Politécnico de Viseu (ISPV) estava disposto a comprar, por cerca de 25 milhões de euros, todo o património da Universidade Católica em Viseu (UCV). O negócio, que tem vindo a ser tratado entre as partes e a tutela, desde o início do ano, terá sido vetado pelos ministérios da Ciência e do Ensino Superior e o das Finanças, que discordam da transacção. O primeiro porque desaprova a fusão entre as duas instituições implícita na negociação - processo que, a concretizar-se, daria lugar à criação da Universidade Pública -, e o segundo porque "continua a impedir" o acesso do ISPV ao dinheiro que possui.

A notícia foi confirmada pelo presidente do ISPV, João Pedro de Barros, que lamenta a oposição do Governo a um projecto que iria muito além da mera engenharia financeira. "Era a oportunidade única de dar à região a universidade pública há tanto reclamada e que foi prometida por sucessivos governos. Uma estrutura de Ensino Superior, com as vertentes politécnica e universitária, que seria gerida por uma direcção composta por elementos das duas instituições", explicou.

João Pedro de Barros confirmou que as negociações entre a UCV e o ISPV começaram no início do ano. "Nos últimos meses, trocámos correspondência e chegámos a agendar uma reunião com a tutela, que nunca aconteceu, no sentido de viabilizar um negócio que seria bom para todos. Nós temos o dinheiro de que a UCV precisa para liquidar o passivos; o Politécnico poderia consolidar a criação de três pólos distintos de formação politécnica e universitária e as duas instituições fundiam-se para dar à região a Universidade Pública", disse.

João Pedro de Barros admite que o Ministério da Ciência Tecnologia e Ensino Superior possa vir a apoiar a compra de alguns edifícios da UCV, "se provarmos que precisamos deles para crescer", mas reconhece que "o processo será mais complexo". "Entretanto, sabemos que há um grupo espanhol interessado na aquisição de parte daquele património, situação que, não agradando à UCV, não pode deixar de ser considerada", concluiu.

Junto de um docente da UCV que não quis ser identificado, que as dificuldades da instituição - a primeira a instalar-se na região -, começaram quando o Governo reduziu à Medicina Dentária o contrato que permitia aos seus alunos, em qualquer curso, pagar uma propina idêntica à do ensino público. Situação que se agravaria, mais recentemente, com os elevados investimentos que a UCV realizou na construção de modernas instalações e que não tiveram resposta na afluência de candidatos ao Ensino Superior.

A UCV, que já chegou a ministrar várias licenciaturas no pólo de Viseu do Centro Regional das Beiras, designadamente na área das Humanidades, está agora reduzida a três - Medicina Dentária, Arquitectura e Serviço Social - além de pós-graduações e doutoramentos. O número de alunos, que já andou próximo dos três mil, ronda actualmente os 700. "A 'Católica não quer sair de Viseu. Mas, perante este cenário, consonante o que se passa a nível nacional, é natural que pretenda alienar parte das instalações", adiantou o mesmo docente.

O reitor da Universidade Católica Portuguesa (UCP), Manuel Braga da Cruz, que se recusou a confirmar ou a desmentir a notícia. Limitou-se a informar que estará para breve (Setembro), o anúncio de um projecto de cooperação entre várias entidades.

Dulce Anahório, assessora do Ministério da Ciência e do Ensino Superior, a meio da tarde de ontem, que o ministro Mariano Gago "não comenta" o assunto.

Formação avançada

O projecto que o reitor da Universidade Católica Portuguesa (UCP), Manuel Braga da Cruz, poderá anunciar em meados de Setembro para a região, irá envolver, para além da UCV e do ISPV, a Associação Empresarial da Região de Viseu (AIRV). Ontem João Cotta, presidente daquela associação empresarial, revelou que o projecto em causa, que começou a ser dinamizado pela AIRV há cerca de um ano, aponta para a criação de uma escola de estudos avançados. "O que pretendemos lançar ainda durante este ano, em parceria com aquelas duas instituições de Ensino Superior, é uma escola que irá ministrar pós-graduações em três sectores que consideramos estratégicos Gestão, Energias Renováveis e Biotecnologia (nas áreas dos vinhos, queijos e termalismo)". João Cotta acrescenta que a formação dos candidatos - um estudo de mercado revelou a existência de considerável número de adesões no tecido empresarial - será dada nas instalações do ISPV e da UCV. "Vamos constituir uma associação, ainda sem nome, que dará suporte jurídico ao projecto. Chegaram a aventar-se outras soluções, nomeadamente uma fundação, mas ficaram pelo caminho", disse Cotta, que considera que a contrapartida para a UCV e ISPV "será a rentabilização de instalações e a propina".

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