Sem pressas e nunca ultrapassando a velocidade máxima permitida de 120 quilómetros por hora, demoramos uma hora e 36 minutos a percorrer os 156,5 quilómetros que ligam Viseu a Vila Verde da Raia, em Chaves, por auto-estrada. Os testemunhos recolhidos junto de outros condutores e a certeza de que nem todos cumprem as regras estipuladas no Código da Estrada indicam a duração do percurso em cerca de 1h15, na maioria dos casos. Pela Estrada Nacional 2, o percurso dura 3 horas e 30 minutos. O dobro.
Perto de 8000 veículos por dia já circulam, em média, na auto-estrada 24 (A24), que custou ao todo 750 milhões de euros. As estimativas oficiais relativas ao percurso completo, que atravessa dois distritos do Interior Norte (Viseu e Vila Real), apontavam para uma média de 7200, segundo a Norscut, concessionária da via, número já ultrapassado
Tráfego em crescendo
Bertrand d'Herouville, director-geral da empresa, diz que "a abertura do último troço dá à concessão a sua configuração definitiva, mas só daqui até ao final do ano será tecnicamente sensato fazer um ponto da situação", recusando-se a revelar mais detalhes.
No entanto, o presidente da Câmara Municipal de Chaves, João Baptista, tem dados que lhe permitem confirmar que, "neste momento, só no troço entre a fronteira e Vila Pouca de Aguiar (ligação à A7) passam já "diariamente cerca de 8000 veículos". Números que, ainda segundo o autarca, "passarão, dentro de um ano, a rondar os 11 mil".
João Baptista lembra que "ainda passam a fronteira, diariamente, cerca de 3000 camiões. Tráfego que também deverá aumentar substancialmente, tendo em conta o facto da A24 estar concluída e não ter portagens", acrescentou.
Fontes contactadas garantem que, "entre as cidades de Lamego e Vila Real (registo feito a partir do nó de Reconcos, à saída de Castro Daire, com nós mais usados em Peso da Régua e Constantim - Zona Industrial de Vila Real), circulam diariamente cerca de 7000 veículos". A via tem 21 nós e, em cada um deles, existe um contador de veículos
A A24 (antigo IP3), que demorou mais de 20 anos a ficar concluída, diminuiu, assim, para bem menos de metade o percurso antes feito, esmagadoramente, pela Estrada Nacional 2 (EN2).
Sinistralidade mitigada
Também sem pressas, e a velocidades compreendidas entre os 50 e os 90 quilómetros por hora, a mesma "equipa" demorou três horas e 29 minutos, no sentido inverso, ou seja da fronteira espanhola à cidade de Viseu. É preciso lembrar que, com a conclusão da A24, os camiões que obrigavam a filas intermináveis deixaram praticamente de existir nesta via. E estima-se que a sinistralidade, seja reduzida em 60 por cento.
A nova auto-estrada em regime de SCUT (Sem Custos para o Utilizador), ou seja, sem portagem, ficou concluída no passado dia 24 de Junho. O primeiro-ministro, José Sócrates, inaugurou o último troço, entre Vila Pouca de Aguiar e Fortunho, em Vila Real, no total de 18,1 quilómetros.
Ainda faltam construir as áreas de serviço. Mas, segundo Bertrand d' Herouville, concessionária cujo capital é dominado pela francesa "Eiffage", "em 2008 deverão abrir todas. Serão quatro ao todo, unilaterais mas com acesso de ambos os lados do traçado", Aquele responsável acrescentou que "as futuras áreas de serviço ficarão localizadas em Viseu Sul, Bigorne/Castro Daire Norte, Fortunho (a norte de Vila Real) e Vidago".
Longe das iguarias
Para quem circula agora pela A24 será mais difícil apreciar a paisagem de Trás-os-Montes, os vinhedos deslumbrantes do Douro ou parar em Lamego, para visitar a Sé ou a Senhora dos Remédios, entre outros monumentos.
Mais difícil ainda será comprar iguarias regionais como pastéis de Chaves, covilhetes e cristas de galo em Vila Real, ou rebuçados da Régua. A A24 passa relativamente longe dos principais centros urbanos, com nós a quilómetros de distância, e estradas de acesso com tráfego intenso.
Justiça seja feita aos construtores da via que, entre Vila Pouca de Aguiar e Vila Real, edificaram o primeiro ecoduto do país. Uma passagem superior para lobos, corços e javalis. Entre as duas localidades, o traçado inclui ainda o maior dos 37 viadutos de toda a via. Tem 1350 metros de comprimento e é suportado por 32 pilares.
Governo mostra-se receptivo a alternativas a viaduto da A4
Os secretários de Estado do Ambiente e das Obras Públicas (SEAOP) estão "receptivos" a "soluções alternativas" à construção, junto a Vila Real, de um viaduto de 2700 metros na A4. O traçado prioritário definido no Estudo de Impacte Ambiental (EIA) para a futura auto-estrada 4 (A4), que ligará Parada de Cunhos, em Vila Real, a Quintanilha, em Bragança, é contestado porque implica a demolir 20 casas e construir um viaduto de 2700 metros, junto aos povoados de Folhadela e de Parada de Cunhos. Em protesto contra esta solução foi criada uma comissão de moradores que, segundo um dos elementos, Alcides Vieira, será recebida "em breve" pelos SEAOP. Vieira diz ter a garantia de que os governantes estão "receptivos" para estudar "alternativas". A reunião pode ser agendada no decorrer da próxima semana. Os moradores esperam também pelo parecer definitivo da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) sobre a discussão pública do EIA da A4, após terem enviado à APA mais de 40 pareceres individuais e um abaixo-assinado com 2400 assinaturas. As populações estão contra os impactos visuais e auditivos da construção do viaduto junto às casas, mas também porque a estrutura vai interferir com o Sítio de Interesse Comunitário do Alvão/Marão da Rede Natura 2000. É por este motivo que, para o professor universitário Rui Cortes, se o parecer for favorável, vão protestar, com a Liga de Protecção da Natureza e a Quercus, para a Comissão Europeia. Cortes diz que "a legislação obriga a que haja alternativas no EIA e as existentes são apontadas pelo próprio autor do estudo como inviáveis". E acrescentou que a alternativa do EIA é "inviável" porque prevê a construção da A4 próximo à Vila Velha, junto ao centro histórico de Vila Real. Os moradores querem alternativas e o estudada "sério" da duplicação do actual IP4 entre Parada de Cunhos e a A24. O EIA prevê um aproveitamento de cerca de 80% do corredor do IP4, entre Vila Real e Bragança. Cortes aponta os custos do traçado previsto, designadamente mais de "100 milhões de euros para construir só cinco quilómetros entre Parada de Cunhos e a intersecção com a A24".
"O que nos mata é a crise e não a auto-estrada"
Ligação entre Vila Verde da Raia e Espanha já adjudicada
Lurdes e Simão Quintans
Vendedores de artesanato
Lurdes Quintans, de 46 anos, vende artesanato na zona do Mezio, Castro Daire, há 21. Nas férias traz o filho Simão, de apenas dez anos, consigo. Garante que "a auto-estrada não fez mal nenhum ao negócio. Este troço já abriu há uns cinco anos e as pessoas continuam a parar aqui na mesma. De há três anos para cá é que começou a baixar, não o número de visitantes, mas a quantidade do que compram. Ou seja, as pessoas param à mesma, mas gastam menos, compram só as lembranças mais pequenas e mais baratas, porque não têm dinheiro. É a crise", acrescenta. Uma constatação confirmada pelo vizinho do restaurante/ café do lado. No "Cozinha Típica da Região de Montemuro", continua a parar "muita gente à hora do almoço. Ao longo do dia, é que se nota a diferença. Pára, de facto, muito menos gente e às vezes passa-se uma hora sem que pare ninguém", diz António Magalhães, de 39 anos, que ali trabalha desde 1994. Mas acrescenta "Sinceramente, acho que não tem a ver com a A24. É mesmo a crise em que o país está mergulhado. Almoçar as pessoas tem de almoçar, mas cortam nos pequenos almoços, lanches e bebidas para conseguirem equilibrar o orçamento".
Por enquanto a A24 ainda não está ligada à rede de auto-estradas espanholas. A fronteira ainda se passa pela estrada antiga, num local onde as antigas instalações alfandegárias e fronteiriças se encontram bastante degradadas do lado português.
No entanto, esta ligação de apenas cerca de 10 quilómetros, às proximidades da cidade de Verin, na Galiza, deverá ficar pronta ainda em 2008, uma vez que a obra já foi adjudicada. A ligação à via espanhola A52 (Vigo -Madrid) vai custar quase 50 milhões de euros e inclui uma ponte sobre o ribeiro de Lama de Arcos (que faz fronteira entre os dois países). O investimento vai ser pago na íntegra pelo governo de Madrid, numa decisão negociada nas duas últimas cimeiras ibéricas.
Para além da ligação entre as Beiras e Trás-os-Montes e Alto Douro, e consequentemente aopaís vizinho, ao litoral galego e à Europa, via capital espanhola, Madrid, esta nova auto-estrada representa uma ligação muito mais rápida e cómoda também ao litoral português, quer para os residentes na região transmontano-duriense, quer para os visitantes espanhóis e europeus em geral. A partir de Vila Real, essa ligação poderá ser feita via IP4 e dentro de alguns anos pela A4 (com ligação total entre Amarante e fronteira de Quintanilha, em Bragança, prevista para 2012), como ligação ao Porto, e já agora com a ligação via A7, também ao Porto e à região do Minho, a partir de Vila Pouca de Aguiar.
VISEU CAPITAL DA BEIRA NO CORAÇÃO DE PORTUGAL CIDADE DE GRÃO VASCO COM A SUA CATEDRAL IMPONENTE NO ALTO DO MONTE
Radio Viseu Cidade Viriato
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