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Radio Viseu Cidade Viriato

sábado, 16 de maio de 2009

Com o coração nas mãos...


Os criadores de gado transmontanos andam com o coração nas mãos e com o credo na boca. Chuva, nem vê-la. Os cereais não desenvolveram. Os lameiros estão quase secos. A solução é comprar feno e palha em Espanha.


Bem diz o ditado que Janeiro frio e molhado enche o celeiro e farta o gado, mas dificilmente os agricultores o poderão levar a sério este ano. É que o primeiro mês teve neve e chuva em abundância, mas nem Fevereiro afogou a mãe no ribeiro, nem Abril trouxe águas mil, tão pouco as águas de Maio prenunciam pão para todo o ano.


Desde meados de Fevereiro que não chove na região e os pingos que têm caído mal conseguem apagar o pó. "O S. Pedro não mija cá p'ra baixo", atira Adélia Dias, habitante de Santa Justa, em Alfândega da Fé. "Coitadinhas" das suas 140 ovelhas, "canhonas", como lhes chama. "Não chove, as comidas são poucas, é só despesa, não sei como vai ser", lamenta o marido Francisco Anacleto. Mal alimentadas, "o rendimento do leite das ovelhas foi muito pouco comparado com outros anos". Lamentos maiores verbaliza-os Rui Tadeu, que no vale da Vilariça, entre Vila Flor e Alfândega da Fé, olha desolado para os 25 hectares de searas que "pouco ou nada vão dar". Nas terras de aveia, onde a míngua de água deixou as plantas raras e raquíticas, já deu ordens ao pastor para lá botar a pastar as cerca de 300 cabeças de gado ovino. "Aproveitar alguma coisa enquanto a aveia está verde, pois grão já não vai dar e depois de seco o gado já não lhe pega", explica.


Num vale onde o Verão chega a brindar os residentes com 40 e muitos graus de temperatura, a falta de chuva na Primavera não augura nada de bom. Ainda se animou Rui Tadeu quando viu cair chuva no início desta semana. "Durou meia hora". O ânimo, como veio também se foi. E assomou-lhe à lembrança o "dramático" ano seco de 2005.


Com uma quinta onde tem pecuária biológica, 95% do que ali se produz é para dar ao animais. Este ano, vai ter de comprar o sustento. De Espanha virá o das 50 vacas que Mário Pereira possui na zona de Izeda (Bragança). Vai encomendar "quatro camiões de palha", o que lhe vai custar "cinco mil euros".


Mário Pereira é presidente da Federação de Agricultura de Trás-os-Montes, que representa mais de mil produtores pecuários. Descapitalizados, os mais deles. Gastaram dinheiro nas sementeiras e agora só não tiram nada como ainda têm de comprar a palha e o feno que a seca lhes negou.


Sopram maus ventos na Terra Quente e no Planalto Mirandês. Neste último, "as pastagens têm o aspecto que costumam ter no mês de Julho", diz Fernando Sousa, secretário técnico do Livro Genealógico dos Bovinos de Raça Mirandesa. Os 280 produtores desta raça já estão a ser "aconselhados a vender os animais mais velhos, pois são os que terão mais dificuldade em suportar períodos de penúria", salienta o responsável, que não tem dúvidas que "alguns irão morrer por falta de alimento".


No distrito de Vila Real "é no Alto Tâmega onde a preocupação é maior", diz Armando Carvalho, da Federação das Associações Agro-Florestais Transmontanas. E lembra que para além da seca também há inquietações crescentes com o preço da carne "que é o mesmo de há 20 anos". Como se não bastasse, "os agricultores estão endividados e confrontam-se com custos de produção cada vez maiores", o que os deixa numa situação "muito aflitiva".


Mário Pereira observa que o futuro da pecuária na região vai ter de passar pelo regadio das colheitas que sempre foram de sequeiro. "Se o Estado quiser continuar a ter agricultura e uma paisagem bonita e limpa nesta região vai ter de investir em regadio e no emparcelamento", avisa, sustentando que "se os lameiros tivessem sido regados, os animais não iriam passar pelo mau bocado que se adivinha".


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