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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Vindima de 'miséria' deixa viticultores em dificuldades

Vindima de 'miséria' deixa viticultores em dificuldades
Uvas no Douro e no Dão estão a ser pagas a 16 e 17 cêntimos o quilograma.

Com as vindimas praticamente terminadas, é tempo de deitar contas à vida. E para muitos viticultores portugueses, o balanço é tudo menos sorridente. Que o digam os produtores do Douro e do Dão, por exemplo, que estão a vender as uvas a 16 e 17 cêntimos o quilograma. Um valor que "não dá nem para pagar o preço da mão de obra na vindima", garantem. Mas também há quem entregue as uvas sem saber sequer quanto vai receber por elas.

Num ano em que Portugal deverá produzir mais 13% de vinho do que na campanha anterior, a pressão sobre os preços é maior. E quem sofre é o viticultor. "O meu pai entregou as uvas por 16 cêntimos o quilo. É isso que está a se r pago no Douro e não há quem faça barulho", afirmou ao DN Luís Sampaio Arnaldo. "Eu bem tentei convencê-lo que mais valia deixar as uvas na videira, mas há sempre a parte emotiva que impede o viticultor de deixar o fruto do seu trabalho apodrecer na videira".

Com custos de produção na região a rondar os 2500 euros por hectare ao ano, numa vinha mecanizada, "os 16 cêntimos por quilo não pagam, sequer, o custo da mão de obra para vindimar". Para Luís Sampaio, o problema reside na falta de escoamento das uvas para vinhos de mesa, devido ao desaparecimento de dezenas de adegas cooperativas. "Há um excesso de oferta nos vinhos do Douro e nós [viticultores]é que estamos a sentir as consequências na pele", salienta.

Em contrapartida, Aurélio Cardoso Barros entregou as uvas aos compradores habituais, mas desconhece quanto vai receber. "Não as devo ter vendido muito bem, mas não sei, não fazem preço. Normalmente só sabemos quanto vamos receber quando nos pagarem lá para Janeiro, se as uvas forem para 'Porto', ou lá para Junho ou Julho, ou quando eles quiserem, se forem uvas de consumo [para vinhos de mesa]", explica o viticultor da zona do Pinhão.

Questionado sobre a opção de deixar as uvas na videira, Aurélio Barros contrapõe: "Se já mal sobrevivo, como é que fazia? Vivo disto, não tenho outro rendimento". E aponta também o dedo ao excesso de oferta. "O problema é que há muitas uvas e poucas firmas a comprar. E eles também são produtores e continuam sempre a plantar. Claro que depois pagam mal as nossas", diz.

Vilhena Pereira, presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, garante "desconhecer" a existência de preços tão baixos e assegura que, em média, o preço no Douro "é muito superior". Mas não avança números.

Já no Dão, a Cruz & Companhia, o maior produtor de vinhos da região, pagou as uvas brancas a 17 cêntimos o quilo e as tintas a 18. As castas eram pagas a 20 cêntimos as brancas e a 22 as tintas. A Touriga Nacional a 26 cêntimos. "Temos de produzir vinhos competitivos quando temos custos de produção elevadíssimos, porque não há emparcelamento nem terrenos onde as máquinas possam entrar", afirmou ao DN fonte da empresa, ripostando que "se não se tivesse recebido, as uvas ficavam todas nas videiras".

No Alentejo, com propriedades maiores e mais mecanizadas, os custos de produção são mais baixos. Mas nem por isso os preços caíram tanto. Bernardo Carpinteiro Albino é viticultor em Elvas e tem um acordo plurianual "justo" com um comprador. E justo, no Alentejo, é tudo o que oscile entre os 33 e os 43 cêntimos o quilo, consoante as castas e a qualidade. "Não tenho ouvido queixas. A única questão prende-se com as dificuldades financeiras das cooperativas, que levam a que paguem só no ano seguinte. É mau no primeiro ano, mas depois a cadência mantém-se e tudo normaliza", diz.

DN

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