Doenças provocam dependência nos mais velhos, e familiares dizem não ter condições para os receber. Só no Amadora-Sintra há 43 idosos internados que já tiveram alta
O número de idosos abandonados nos hospitais não pára de aumentar. Só no Amadora-Sintra há 43 idosos - e também cinco crianças - que já tiveram alta clínica mas permanecem internados por "motivos sociais". No Hospital de São João, no Porto, os casos de "protelamento de alta" estão a aumentar desde o segundo trimestre do ano. E até o Hospital de Beja diz existir um "número crescente de famílias que se recusam a aceitar doentes dependentes".
São casos como os de idosos deixados nos serviços de urgência com o cartão de utente sobre o peito, familiares que "desaparecem" e não atendem os insistentes telefonemas feitos pelas assistentes sociais e vidas marcadas pela miséria e pelo abandono que acabam numa cama de hospital.
"Temos cada vez mais casos de famílias que não levam os doentes para casa. O ano passado foram 64 casos. Mas este ano há muitos mais", diz Cristina Nobre, assistente social no Hospital José Joaquim Fernandes, de Beja. "Quando o médico efectua a avaliação clínica e diz que um idoso pode fazer a sua reabilitação em casa, às vezes, com necessidade de algum tipo de apoio domiciliário, há famílias que se recusam a aceitar a decisão. Não levam os doentes e vão protelando a sua permanência no hospital o mais possível."
Para quem fica, o sentimento de abandono é indisfarçável. "Há pessoas que se sentem completamente desamparadas, nunca pensaram que os filhos ou outros familiares as pudessem deixar numa situação destas", refere Cristina Nobre. E acrescenta que existe "uma grande pressão" para o encaminhamento dos doentes para as unidades de convalescença ou de média e longa duração da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI), cuja resposta é insuficiente (ver texto nesta página).
"A população idosa apresenta na sua maioria situações de dependência que acarretam encargos muito significativos para qualquer família", explica fonte da Unidade de Acção Social do Hospital de São João. E revela a existência de uma dificuldade crescente para atender às solicitações de institucionalização em lar e apoio económico para "pagamento de prestadora de cuidados" a pessoas dependentes. Tudo isto, somado às dificuldades de reintegração no meio familiar, origina o aumento do número de doentes que continuam internados apesar de já não necessitarem de cuidados médicos.
Também a coordenadora do Gabinete de Acção Social do Hospital Amadora-Sintra, Adélia Gomes, aponta a "maior demora por parte da [resposta da] Segurança Social" como justificação para o acréscimo de dias de internamento hospitalar "apenas por motivo social".
O problema é que faltam lugares na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, carência particularmente sentida em Lisboa, onde se regista o "menor rácio de respostas de todo o País", segundo revela ao DN a coordenadora da rede, Inês Guerreiro.
Com os lares cheios e filas de espera enormes, resta a muitos idosos aguardar no hospital o aparecimento de alguma vaga. "O tempo de entrada numa unidade de média e longa duração chega a ser de quatro a cinco meses e algumas famílias, por não terem condições ou porque não quererem, recusam-se a levar os idosos para casa", desabafa um responsável hospitalar.
Inês Guerreiro reconhece a dificuldade em encontrar respostas no terreno. E que a tendência é para "culpabilizar o outro, seja ele o hospital, a família, a RNCCI ou as instituições de solidariedade social", mas recorda que até há quatro anos os cuidados continuados constituíam uma valência que se encontrava "fora" do Serviço Nacional de Saúde.
DN
São casos como os de idosos deixados nos serviços de urgência com o cartão de utente sobre o peito, familiares que "desaparecem" e não atendem os insistentes telefonemas feitos pelas assistentes sociais e vidas marcadas pela miséria e pelo abandono que acabam numa cama de hospital.
"Temos cada vez mais casos de famílias que não levam os doentes para casa. O ano passado foram 64 casos. Mas este ano há muitos mais", diz Cristina Nobre, assistente social no Hospital José Joaquim Fernandes, de Beja. "Quando o médico efectua a avaliação clínica e diz que um idoso pode fazer a sua reabilitação em casa, às vezes, com necessidade de algum tipo de apoio domiciliário, há famílias que se recusam a aceitar a decisão. Não levam os doentes e vão protelando a sua permanência no hospital o mais possível."
Para quem fica, o sentimento de abandono é indisfarçável. "Há pessoas que se sentem completamente desamparadas, nunca pensaram que os filhos ou outros familiares as pudessem deixar numa situação destas", refere Cristina Nobre. E acrescenta que existe "uma grande pressão" para o encaminhamento dos doentes para as unidades de convalescença ou de média e longa duração da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI), cuja resposta é insuficiente (ver texto nesta página).
"A população idosa apresenta na sua maioria situações de dependência que acarretam encargos muito significativos para qualquer família", explica fonte da Unidade de Acção Social do Hospital de São João. E revela a existência de uma dificuldade crescente para atender às solicitações de institucionalização em lar e apoio económico para "pagamento de prestadora de cuidados" a pessoas dependentes. Tudo isto, somado às dificuldades de reintegração no meio familiar, origina o aumento do número de doentes que continuam internados apesar de já não necessitarem de cuidados médicos.
Também a coordenadora do Gabinete de Acção Social do Hospital Amadora-Sintra, Adélia Gomes, aponta a "maior demora por parte da [resposta da] Segurança Social" como justificação para o acréscimo de dias de internamento hospitalar "apenas por motivo social".
O problema é que faltam lugares na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, carência particularmente sentida em Lisboa, onde se regista o "menor rácio de respostas de todo o País", segundo revela ao DN a coordenadora da rede, Inês Guerreiro.
Com os lares cheios e filas de espera enormes, resta a muitos idosos aguardar no hospital o aparecimento de alguma vaga. "O tempo de entrada numa unidade de média e longa duração chega a ser de quatro a cinco meses e algumas famílias, por não terem condições ou porque não quererem, recusam-se a levar os idosos para casa", desabafa um responsável hospitalar.
Inês Guerreiro reconhece a dificuldade em encontrar respostas no terreno. E que a tendência é para "culpabilizar o outro, seja ele o hospital, a família, a RNCCI ou as instituições de solidariedade social", mas recorda que até há quatro anos os cuidados continuados constituíam uma valência que se encontrava "fora" do Serviço Nacional de Saúde.
DN
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