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sexta-feira, 14 de setembro de 2007

O tempo das cidades



Omundo está na «alvorada de um milénio urbano». Quem o afirma são os autores do relatório «Situação da população mundial em 2007 - libertar o potencial de crescimento urbano», recentemente publicado pelas Nações Unidas. Os argumentos são irrefutáveis em 2008, e pela primeira vez na sua história, mais de metade da população do globo, ou seja 3.300 milhões de habitantes, viverá em centros urbanos; em 2030 este valor rondará os 5 000 milhões, cerca de 81% dos habitantes do planeta. O crescimento urbano será particularmente intenso e rápido em África e na Ásia, onde, em apenas 30 anos, a população urbana duplicará, e relativamente mais lento na Europa e na América do Norte (menos de 10%).

Portugal acompanha de perto esta tendência. Nas últimas duas décadas, a população urbana portuguesa passou de 3 para 6 milhões de pessoas, devendo continuar a crescer até 2010 a um ritmo de 1,5% ao ano. Um valor que, no velho continente, só será superado pela Albânia e pela Irlanda, e que colocará o nosso país mais próximo da média europeia (65% contra 72%). Mas, claro está, os indicadores nacionais escondem realidades territoriais díspares. O crescimento da população urbana tem sido muito forte no Litoral, e em particular nas regiões metropolitanas do Porto e Lisboa, e relativamente fraco no Interior. A título de exemplo, refira-se que, em 2001, a população residente em localidades com mais de 2000 habitantes representava apenas 24 % da população total em Trás-os-Montes e Alto Douro, mas na Área Metropolitana do Porto já ultrapassava os 73%.

Todos estes números demonstram a urgência imperiosa do debate sobre o futuro do mundo rural e das cidades ou das cidades e do Interior, como o preferiu intitular um dos cronistas deste jornal. O fenómeno da urbanização parece inelutável. Não o podemos ignorar e duvido que o consigamos contrariar. Tanto mais que, na era industrial, nenhum país foi capaz de crescer economicamente sem urbanização. Mas podemos e devemos reflectir sobre as suas consequências e desafios, sobre os modelos de desenvolvimento, urbano e rural, que temos vindo a adoptar nas últimas décadas e sobre as visões ideológicas, os paradigmas teóricos, as políticas públicas e os programas de acção que os têm sustentado.

No que diz respeito ao Interior, a minha convicção é de que o seu futuro se joga nas suas vilas e cidades. Bem sei que esta afirmação é para muitos uma verdadeira heresia. Mas o estancamento da sangria demográfica depende, em grande medida, do seu dinamismo e da sua capacidade para atrair e fixar pessoas, actividades, recursos e energias. Ou seja, atingir a tão famigerada massa crítica que permita gerar iniciativas, alargar os factores de competitividade, racionalizar e tornar sustentáveis infra-estruturas, equipamentos e serviços públicos.

A aposta nas vilas e cidades do Interior deve, pois, privilegiar muito mais do que uma mera extensão dos processos de urbanização. Para além de evitar erros passados ou alheios (caos urbanístico, social e ambiental), o que está em causa é a reconstrução das suas bases económicas e produtivas, tornando-as menos dependentes das actividades tradicionais e dos serviços públicos. Promovendo e apoiando, por exemplo, a criação e a instalação de empresas que explorem recursos locais, vantagens competitivas e oportunidades de mercado. O desafio é imenso e o caminho a percorrer é longo e difícil. Mas não é impossível de vencer e percorrer. Desde que aprendamos com os bons exemplos e tenhamos coragem para agir.

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