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sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Desertificação já atinge 36% do Continente


Medidas de mitigação da aridez dos solos confrontam--se com a desertificação humana do interior do País

Mais de metade de Portugal corre o risco de desertificar. No espaço de duas décadas, 66% do País pode transformar-se em solo árido, se nada for feito para inverter a situação que se vive na actualidade um terço do território continental encontra-se classificado como zona susceptível à desertificação.

A aridez dos solos atinge a totalidade do interior algarvio e o Alentejo. Nesta região, o fenómeno assume proporções quase dramáticas, na margem esquerda do Gua- diana, nos concelhos de Mértola, Castro Marim e Alcoutim. Mas a desertificação não está confinada ao Sul do País. Todo o interior raiano, do Algarve a Trás-os-Montes, está a ficar deserto, a nível de perda de potencial biológico dos solos. Mas não só. Também é humana a desertifiação do País.

Vítor Louro, coordenador do Programa de Acção Nacional pa- ra Combate à Desertificação (PANCD), aponta uma cadeia de factores que concorrem para o empobrecimento da terra. Desde logo a susceptibilidade natural de algumas regiões, aliada ao mau uso do solo, mas também os incêndios e reflorestações mal conduzidas. A seca severa, que este ano afecta Portugal, é mais um elemento a contribuir para um retrato pouco animador. João Corte-Real, da Universidade de Évora, embora recuse apontar as alterações climáticas como causa da falta de chuva, admite que o aquecimento global vai provocar períodos secos mais frequentes e longos.

A desertificação não se explica só por factores físicos. Os problemas socioeconómicos, que afastam as pessoas do interior para as cidades do litoral, deixam as terras ao abandono e indefesas perante os incêndios que devoram centenas de hectares e provocam forte erosão nos solos.

Um cenário assustador. Vítor Louro refere a dificuldade em de-senvolver acções de combate e mitigação da desertificação física do território "Em alguns locais escasseiam já os destinatários para as iniciativas." Um exemplo flagrante é o concelho de Mação, no centro do País, cuja sede está ironicamente situada a escassos 10 quilómetros de uma auto-estrada.

Mação, com Idanha e Penamacor, integra um dos programas-piloto contra a aridez. Os outros localizam-se no Algarve (serra algarvia, Alcoutim e Castro Marim), em Mértola, e nas arribas do Douro, no concelho transmontano de Mogadouro.

monitorização. Os sistemas de informação são essenciais para acompanhar o progredir da desertificação e identificar a cada momento as áreas de maior risco. Para isso, a Agência Espacial Europeia desenvolveu um programa que permite monitorar a situação através de imagens de satélite, com uma resolução que permite a intervenção à escala local. O DesertWatch - que inclui ainda a Itália, a Grécia e a Turquia - vai vigiar todo o País, permitindo fornecer aos decisores políticos ferramentas para uma "atitude prospectiva", explica o coordenador nacional Lúcio do Rosário.

Usando dados históricos e as sequências do desenvolvimento da desertificação em Portugal, este programa permite desenhar cenários. Lúcio do Rosário explica que, analisando os factores de ameaça físicos, ecológicos e sociais, "estamos a caminhar rapidamente para um total de dois terços do território susceptível à desertificação". Este programa visa uma intervenção que evite este cenário, através de medidas que passam essencialmente pela actividade agrícola, florestal e imobiliária.

A nível local, várias universidades aglutinaram-se num projecto denominado Rede para a Observação e Análise do Fenómeno da Desertificação e da Seca, com vista a desenvolver uma acção preventiva. Amílcar Soares, do Instituto Superior Técnico (IST), aponta a necessidade de reunir várias investigações sectoriais e aplicá-las a um problema transversal como é a desertificação. O professor do IST acredita que a falta de atenção dos políticos para um fenómeno que ultrapassa os ciclos eleitorais poderá ser colmatada com um conhecimento sistematizado.


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