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Radio Viseu Cidade Viriato

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Cidades portuguesas cresceram de forma caótica nos últimos 30 anos

Tentar percebera "desordem" urbanística e o crescimento "caótico" das cidades portuguesas nos últimos 30 anos, isto é, desde a instauração da democracia saída da Revolução dos Cravos. Foi esse o principal objectivo de um ambicioso trabalho iniciado em 2000, envolvendo 24 equipas de jovens arquitectos - tantas quantas as cidades abordadas - apoiados por bolsas geridas pela Fundação da Juventude e pela Secção Regional Norte da Ordem dos Arquitectos.

O resultado, A cidade e a democracia, foi apresentado anteontem na Universidade de Aveiro, sob a forma de uma publicação bilingue (português e castelhano) com a chancela editorial da Argumentam, coordenada pelo geógrafo Álvaro Domingues, com quase 400 páginas e profusamente ilustrada com fotografias aéreas.

O trabalho, segundo defendeu o arquitecto Nuno Portas, pode funcionar como complemento do recente levantamento da Arquitectura Portuguesa do Século XX, coordenado pela Ordem dos Arquitectos. Enquanto este último tratou de dar visibilidade às "jóias da coroa", às peças nobres, o estudo agora divulgado faz uma abordagem do crescimento urbano em grosso e do seu aparente desvario.

Tanto Nuno Portas como Álvaro Domingues procuraram desvalorizar o discurso habitualmente crítico quanto ao modo como o urbanismo "explodiu" nas décadas seguintes ao 25 de Abril de 1974, muito por pressão do forte aumento do poder de compra e de factores como a banalização do automóvel e a multiplicação de vias rápidas. Portas precisou que as mudanças na velha matriz de afirmação urbana começaram "antes do 25 de Abril", limitando-se o novo regime a tornálas "mais transparentes" e a acelerá-las.

Significa isto que tanto Portas como Domingues se recusaram a "diabolizar" a democracia como mãe de todos os disparates urbanísticos que se cometeram até aqui, entre outras razões porque, defendem, o que aconteceu dificilmente podia ser travado e porque nem tudo o que se fez é mau.

De resto, uma das acusações mais frequentes feitas aos responsáveis públicos nestas décadas de poder democrático - a da permissividade construtiva alimentada por especulações e corrupções várias - não fará grande sentido, uma vez que os planos directores aparecem no final da década de 1990, quando o grosso da explosão urbanlstica já tinha ocorrido.

"Horrores" fotografados de cima

Seja como for, a abordagem feita ao modo como cresceram 24 cidades médias portuguesas não permite tirar conclusões brilhantes. Uma das mais-valias do livro são as numerosas fotografias aéreas da autoria do arquitecto Filipe Jorge, que, olhando de cima para as novas realidades urbanas, ficou chocado com a "galeria de horrores" que lhe ia aparecendo pela frente.

"Ainda hoje não acreditamos no que vemos", confessou o fotógrafo-arquitecto, obreiro de imagens que, para Nuno Portas, "passaram a ser despudoradamente mais expressivas e mais explicativas" do que as monografias sobre as cidades.

Para além dos 24 estudos feitos pelas equipas de jovens arquitectos, o livro abre com uma longa reflexão assinada por Álvaro Domingues, que procura dar unidade aos trabalhos monográficos e definir as grandes linhas com que se cosem as novas realidades urbanas. É aí que se avança com cinco "pontos explicativos" que estão por trás da "explosão" urbana.

Crescimento ao longo das novas vias

Antes de tudo, a revolução nos "sistemas de mobilidade" - novas auto-estradas e vias rápidas, automóveis, telemóveis, Internet e tudo o que aproxima as pessoas e torna o território mais pequeno; depois, o fim do centro cívico e histórico das cidades entendido como polarizador de serviços, actividades e símbolos.

Sucedem-lhe urbes policêntricas com centros comerciais, hospitais, estádios, escolas e outras estruturas mobilizadoras de massas localizadas nas periferias; o crescimento urbano disperso e difuso, normalmente feito ao longo das novas vias, tido como inaceitável pela maioria e sinal de um pretenso crescimento caótico - o edifício-montra à margem da estrada, fábricas descosidas da envolvência e habitações semeadas sem lógica aparente são algumas das manifestações deste urbanismo difuso.

Há ainda os vazios de construção, e muitas vezes de sentido, entalados entre zonas urbanizadas, que não são ainda urbanos e já deixaram de ter utilidade produtiva, condenados pela industrialização da agricultura; e, finalmente, os problemas da regulação urbana (PDM e não só), incapazes de responder a uma dinâmica construtiva esmagadora que, por exemplo, multiplicou por quatro a área urbana de Leiria.

AS 24 CIDADES ESTUDADAS

O trabalho de campo que deu origem à obra agora apresentada foi feito por 24 equipas de jovens arquitectos. Cada uma estudou uma cidade média portuguesa. A lista das localidades analisadas é a seguinte: Bragança, Chaves, Vila Real, Viana do Castelo, Barcelos, Braga, Guimarães, Vila Nova de Famalicão, Póvoa de Varzim, Penafiel, Santa Maria da Feira, Aveiro, Coimbra, Figueira da Foz, Viseu, Guarda, Covilhã, Castelo Branco, Leiria, Torres Vedras, Amadora, Barreiro, Évora e Horta.

LISBOA liderante, PORTO ameaçado

Os principais pólos de crescimento urbano e de afirmação regional desenvolvem-se em torno de cidades, de uma ou mais. O estado actual dessas macro-estruturas é abordado num estudo de Teresa Sá Marques, inserido no trabalho coordenado por Álvaro Domingues.

LISBOA

A capital continua a liderar claramente o "sistema urbano português", sendo o centro aglutinador da "maior concentração nacional de actividades de base tecnológica, de indústrias e serviços" e de investigação e desenvolvimento. Apesar de ter perdido um grande número de residentes nas últimas décadas, é um cluster urbano em crescimento, concentrando uma base enorme de serviços de apoio ao sector produtivo, ao turismo, à cultura e ao lazer, contando ainda com uma "posição interessante" nas redes transcontinentais baseadas na língua portuguesa, podendo a sua "tradição multiculturalista" transformar-se num "recurso estratégico no contexto europeu".

PORTO

Em torno do Porto tem-se afirmado uma estrutura urbana "muito dinâmica e com um modelo de ocupação do território denso e difuso". A mancha estende-se para Norte até Viana, para Sul até Aveiro e para leste em direcção a Vila Real. É um sistema com vários núcleos, com cidades médias e mais distantes do centro a "ameaçarem" crescentemente o "poder" e a influência do Porto. Por exemplo, Santo Urso integra-se na Área Metropolitana mas faz rede com o vale do Ave; Guimarães e Famalicão reforçam cada vez mais o hinterland bracarense; São João da Madeira, Oliveira de Azeméis e Ovar encostam-se mais e mais a Aveiro. Enfim, estamos perante uma "geografia político-institucional em ebulição", reflectindo a "diminuição crescente do peso da cidade do Porto".

TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

Vila Real, Régua, Lamego, Chaves, Mirandela e Bragança são cidades médias que "procuram estruturar um extenso território rural em perda". Trata-se de um sistema urbano de "fraca dimensão económica e social", embora com alguns trunfos, o maior dos quais é o património do Douro Vinhateiro.

REGIÃO CENTRO

Sistema urbano regional "policêntrico", com núcleos aglutinadores constituídos em volta de Aveiro (em processo de afirmação face ao Porto), Viseu, Coimbra e Leiria, com cidades médias como Torres Novas, Tomar, Abrantes e Entroncamento a funcionarem como cimentos urbanos no espaço do Médio Tejo. Mais para o interior, o eixo Guarda-Belmonte-Covilhã- Fundão-Castelo Branco sustenta um território rural em dificuldades, potenciando um espaço de relacionamento transfronteiriço.

ALENTEJO

Évora, Beja, Portalegre e Sines-Santiago do Cacem são as centralidades urbanas principais que "seguram" um grande território rural de fraca densidade, com povoamento muito concentrado e "dinâmicas regressivas significativas".

ALGARVE

Sistema urbano "linear", com forte urbanização na faixa litoral e um "esvaziamento da serra". A especulação imobiliária determinou a construção de "um eixo urbano difuso e um mosaico urbano-turístico desestruturado e de qualidade ambiental discutível".

ILHAS

"Estrutura periférica" com ritmo de crescimento urbano muito acentuado em volta das cidades maiores: Funchal, Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta. O modelo urbano "não se distancia dos padrões do continente".

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