O país dos endividados
O crédito malparado atingiu o valor mais elevado desde 2002 - só no crédito à habitação (a fatia de leão dos empréstimos pedidos pelos portugueses) a dívida ascende já a 1,2 mil milhões, um recorde desde Fevereiro de 2006. O malparado só não é ainda maior em Portugal porque as famílias estão a consumir menos (aumento de apenas 1,1%, contra 2,1% em 2005), destinando uma parcela significativa dessa "poupança" à amortização de dívidas. Por outro lado, o consumo está a ser refreado pela alta das taxas de juro, num contexto de endividamento que já era elevado (124% do rendimento disponível). O aumento dos impostos e a instabilidade no mercado de trabalho também não ajudaram a elevar mais o consumo.
"Não há motivo para preocupação, visto que os números (do crédito malparado) estão perto das médias europeias", garantiu recentemente Vítor Constâncio, governador do Banco de Portugal. No entanto, a comparação internacional do endividamento em percentagem do Produto Interno Bruto (PIB - indicador da riqueza produzida pelo país), coloca Portugal (88,4%) bem acima da média da União Europeia (66%). Ou seja, estamos a colocar-nos numa situação que se presta a mais situações de incumprimento. Apesar disso, o montante de crédito pedido não pára de subir.
A ligação directa entre diminuição da poupança, abrandamento do ritmo do consumo e aumento das amortizações está contida no Relatório Anual de 2006 do banco central. Catarina Frade, do Observatório do Endividamento do Consumidor, mostra-se surpreendida com a constatação do banco central. Aparentemente, os portugueses têm aprendido a precaver-se relativamente a situações de incumprimento perante a banca. A decomposição do rendimento disponível das famílias explica o actual quadro. O aumento dos impostos directos - os contribuintes pagaram mais 550 milhões de euros em 2006 - e a instabilidade no mercado de trabalho, reflectida nas taxas de desemprego já deste ano, também contribuíram para a queda da taxa de poupança em percentagem do rendimento disponível de 8,4% para 7,9%.
As cautelas dos consumidores estão bem patentes, por exemplo, nos dados do Banco de Portugal sobre crédito ao consumo. Os portugueses devem 11.871 milhões de euros (Maio 2007), pouco acima dos mais de 10 mil milhões em igual mês do ano passado. Em Maio, o crédito malparado no consumo aumentou para 446 milhões de euros, quando era de 413 milhões de euros um ano antes, mas a verdade é que o retrato geral da cobrança duvidosa tem mostrado altos e baixos.
"Na Caixa Geral de Depósitos (CGD) como na restante Banca, tem-se assistido, nos últimos tempos a um incremento de processos que entram em incumprimento, mas que procuramos encarar com uma política de enquadramento de soluções adequadas à situação financeira dos clientes, ajustando prazos e outras condições, de modo a ajudarmos a ultrapassar situações conjunturais"
Alguns bancos começaram a prestar mais atenção aos clientes. Por exemplo, o Santander tem um sistema de monitorização das situações de incumprimento, entrando em contacto directo com os seus clientes aos primeiros sinais de dificuldade de pagamento.
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