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domingo, 17 de setembro de 2006

Grao-Vasco

Vasco Fernandes (Viseu, 1475 —1542), mais conhecido por Grão Vasco, é considerado o principal nome da pintura portuguesa quinhentista. Nasceu provavelmente em Viseu e exerceu sua atividade artística no Norte de Portugal na primeira metade do século XVI.



Detalhe do São Pedro pintado por Vasco Fernandes para a Sé de Viseu, hoje no Museu Grão Vasco em Viseu.

A primeira referência a Vasco Fernandes data de 1501, quando se iniciou a feitura do grande retábulo da capela-mor da Sé de Viseu. Nessa empreitada, que durou de 1501 a 1506, Vasco Fernandes trabalhou junto ao pintor flamengo Francisco Henriques, trata-se de uma obra oficinal colectiva, sendo dificil determinar com rigor o papel que Vasco Fernandes desempenhava. Mais tarde, entre 1506 e 1511, trabalhou em Lamego pintando o retábulo da capela-mor da Sé, nesta obra toma a responsabilidade individual sendo auxiliado por entalhadores flamengos. Esteve depois em Coimbra (cerca de 1530), onde pintou quatro retábulos para o Mosteiro de Santa Cruz, dos quais sobrou apenas um magnífico Pentecostes na sacristia do mosteiro. Mais tarde se instalou novamente em Viseu e realizou vários retábulos, considerados suas obras mais importantes, para a Sé e o Paço Episcopal do Fontelo, junto com seu colaborador Gaspar Vaz. Vasco Fernandes foi um pintor de transição do Manuelino, pintura flamenga e renascentista à custa do humanista D. Miguel da Silva, que com o seu conhecimento e biblioteca lhe cria influências renascentistas. Além dos traços italianizantes é também a utilização de uma iconografia humanista que mostra o impacto que os ideias de D. Miguel da Silva tiveram sobre a oficina de Viseu.

A maior parte das pinturas de Vasco Fernandes estão no Museu Grão Vasco, em Viseu, com obras da sua primeira e última fases artísticas. No Museu de Lamego estão cinco das vinte tábuas do retábulo da Sé de Lamego, desmontado no século XVIII. Na igreja matriz de Freixo de Espada à Cinta, construída na época manuelina, assim como no Mosteiro de Salzedas, encontram-se outros importantes grupos de pinturas de Vasco Fernandes. Finalmente, na sacristia do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra pode-se apreciar o Pentecostes.

Vasco Fernandes esteve casado duas vezes, a primeira com Ana Correia, e a segunda com Joana Rodrigues, e teve vários filhos.

Num documento do arquivo do Cabido da Sé de Viseu (Livro de Recebimento dos Foros do ano de 1501-2), consta que Pero Anes, alfaiate, trazia do Cabido, além de uma vinha e de uma casa de que pagava 50 rs e 2 capões uma outra casa de que pagava 180 rs e 2 capões, ao Cabido, e 20 soldos, ao mosteiro de Santa Clara de Coimbra. Vasco Fernandes, pintor, pagou, nesse ano os 180 rs e 2 capões, tendo pago mais 2 capões em nome do seu sogro. Esta é a mais antiga referência relativa a Vasco Fernandes, da qual se pode concluir que em 1501 morava em Viseu, numa casa próxima da Sé e defronte do Eirado, e que era casado, provavelmente com Ana Correia, filha de Pero Anes, e irmã de Bastião Correia. Pelo mesmo documento sabemos que no ano 1504-5 Vasco Fernandes habitava a mesma casa e se encontrava em Viseu e que a 7 de Julho de 1507, em virtude da provável ausência da cidade, o pagamento das casas do pintor é efectuado por João da Villa.

Decorria entretanto a feitura do grande retábulo da capela-mor da Sé de Viseu (1501-6), cuja intenção de encomenda havia sido expressa pelo bispo D. Fernando Gonçalves de Miranda, em carta enviada de Óbidos para o Cabido, em 22 de Setembro de 1500. A questão de saber se Vasco Fernandes dirigiu esta empreitada assume grande importância, já que a documentação anterior a 1506 não esclarece directamente a feitura de qualquer obra. Auxiliado por alguns pintores de formação flamenga, Vasco Fernandes manteve-se, por certo, ocupado no labor deste retábulo até cerca de 1506, data em que o bispo de Lamego, D. João Camelo de Madureira, lhe encomenda uma obra de vulto para a sua Sé, encomenda similar à de Viseu, então já concluída.

A 7 de Maio de 1506, o pintor morador em Viseu firmou, no Paço Episcopal de Lamego, a importante escritura de contrato para o retábulo da capela-mor da Sé desta cidade. Este trabalho de vulto, que rendeu a quantia de 450 mil reais, cem alqueires de trigo e três pipas de vinho, estava concluído em 1511.

Entre 1506 e 1511, Vasco Fernandes viveu, pois, em Lamego, habitando uma casa arrendada pelo bispo especialmente para este trabalho, como havia sido previamente estipulado no primeiro contrato. Com base na vasta e pormenorizada documentação reunida e publicada por Vergílio Correia, colaboraram neste retábulo os entalhadores flamengos Arnao de Carvalho e Joao de Utrecht, que cumpriram a empreitada de talha e marcenaria, e o pintor Fernão de Anes de Tomar, parceiro de Vasco Fernandes, na policromia e douramento da desaparecida composição escultórica Virgem de Jessé. Além de outros mestres, como o carpinteiro André Pires ou o entalhador borgonhês Angelo Ravanel, com participação menos importante, desconhecem-se outros parceiros para a feitura do retábulo.

Este é o período mais bem documentado do pintor, constituindo esta vasta documentação um inestimável contributo para o conhecimento seguro das circunstâncias em que, nos primeiros anos do século xvi, decorria a feitura dos magníficos conjuntos retabulares de pintura, integrada em complexas estruturas em talha dourada, que se instituíram como moda vingente em Portugal.

Durante o período em que cumpria a encomenda de Lamego, Vasco Fernandes deslocou-se esporadicamente a Viseu. Em 1508, o bem-estar económico, talvez em consequência de parte do pagamento relativo ao retábulo lamecense, teria permitido a venda, em Viseu, do domínio útil da casa do Cabido, que habitava pelo menos em 1501-2, mudando-se para a rua da Regueira, onde residiria até à data da sua morte. Também, com certeza pelos mesmos motivos, trazia, em 1512-13, a propriedade designada por «Casaes do Campo» Vasco Fernandes mantinha contacto, como seria natural, com outros conceituados mestres e oficinas. Após o cumprimento da importante, e certamente prestigiante, encomenda de Lamego, temos conhecimento da presença do pintor em Lisboa: em 1513, viajou acompanhado de Ana Correia, sua mulher, a fim de efectuar o pagamento de uma multa aplicada por sentença da Relação de Lisboa; em 1515, testemunhou, juntamente com o pintor Gaspar Vaz, uma escritura de Jorge Afonso. A sua relação com o pintor régio e com o pintor Gaspar Vaz, que viria mais tarde a integrar a sua oficina, encontra-se pois documentada, o que permite avaliar a importância das relações artísticas que mantinha.

O período menos conhecido da actividade de Vasco Fernandes é o que decorre entre 1515 e 1534. Ainda nesse ano, a 25 de Julho, desloca-se a Lamego a fim de receber as últimas dívidas relativas ao retábulo78, decorridos que eram quatro anos sobre a sua conclusão. Mas só novamente em 1534 temos conhecimento da sua presença em Viseu, pelo pagamento de foros ao Cabido por [...] hua v.a ao peseguido que foi da posesão de Orgees.

Sabemos, porém, que não esteve inactivo. O tríptico assinado Cristo Deposto da Cruz, S. Francisco e Santo António, pintado certamente para o Mosteiro de 5. Francisco de Orgens, nas imediações de Viseu, entre outras obras e conjuntos que se lhe podem atribuir, constitui um testemunho importante da sua actividade, neste período. De intenso labor teriam sido igualmente os anos entre 1530 e a data provável da sua morte, em 1542 ou no início de 1543. Trabalhando em Coimbra, onde recebe, em 1535, parte do pagamento pela execução de quatro retábulos para o Mosteiro de Santa Cruz, e em Viseu, nos grandes retábulos da Sé, é nesta última fase que se revela um dos mais importantes pintores do Renascimento português.

Desta presença em Coimbra e da referida empreitada, resta somente o retábulo Pentecostes, da Capela da Portaria, descrito, em 1541, por D. Francisco de Mendanha, que o considera pintado «por mão de outro Apeles»81. Mas a cidade de Viseu constituiu também um meio artístico aliciante, sobretudo para a pránca desta modalidade. Outros pintores, nomeadamente Gaspar Vaz e António Vaz, encontram- -se activos na cidade, pelo menos a partir, respectivamente, de 1522 e 1535.

A oficina beneficiou da presença do grande prelado humanista, D. Miguel da Silva, bispo de Viseu de 1526 a 1547, cujo empenho em renovar cultural e artisticamente a sede do seu bispado veio a traduzir-se numa actividade notável e profundamente inovadora. Os cinco conjuntos retabulares da Sé, as encomendas para a Capela de Santa Marta do Paço Episcopal de Fontelo, o políptico da Igreja Matriz de Freixo de Espada à Cinta, entre outras obras oficinais, constituem valiosos testemunhos da vitalidade e originalidade que caracteriza este centro de produção pictórica, nos últimos anos de labor do seu mais conceituado mestre.

Vasco Fernandes foi casado duas vezes. Em 1524-25 era ainda casado com Ana Correia, documentada como sua mulher no ano de 1513; em 1541-42, era já casado com Joana Rodrigues, pois, no Livro da Irmandade do Santo Sacramento, relativo a este ano, refere-se um donativo efectuado conjuntamente com Joana Rodrigues, sua mulher. Dos dois casamentos teve duas filhas, respectivamente, Beatriz Correia, que pagou, em nome do pai, o foro relativo a 13 de Setembro de 1541, e Leonor Fernandes, que vivia com a mãe, em 1555-56. Além desta filha, teve Joana Rodrigues um filho, de nome Miguel Vaz. Algumas afinidades onomásticas entre os pintores que integravam a oficina de Vasco Fernandes levaram alguns investigadores a aventar hipóteses de estreitos laços de parentesco entre si. O cónego Henriques Mouta sugere que tenham constituído uma verdadeira dinastia "por estarem ligados por laços de sangue como pelos de afinidade e também pelos de antroponimia, toponímia e sociologia". Segundo este investigador, Vasco Fernandes seria pai dos pintores Gaspar Vaz, o mais conhecido pintor-discípulo, e de Manuel Vaz, de que não se conhece qualquer base de identificação estilística.

Deixando discípulos e continuadores, o pintor teria falecido no fim de 1542, pois, em 1543, no Livro de Pagamentos de foros ao Cabido, encontra-se já a referência a [...] Joana Rodrigues molher que foi do dito Vasco Fernandes e que lhe sobreviveu até cerca de 1568.

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