A mulher que está internada no Hospital de S. João, no Porto, com gripe A e prognóstico reservado, recorreu três vezes ao Centro de Saúde de Celorico de Basto, no distrito de Braga. Para os médicos foi sempre só uma gripe sazonal.
Quando ontem, sexta-feira, ao início da tarde, Margarida Tavares, adjunta da direcção clínica pelo plano de contingência da gripe A, no Hospital S. João, fez o ponto da situação dos dois únicos doentes - um homem, transferido de Famalicão, e uma mulher, transferida de Guimarães - ali internados por estarem infectados com o vírus H1N1, ambos os prognósticos eram reservados. "Estão internados na unidade de cuidados intensivos do serviço de doenças infecciosas." Antes, durante a manhã, o secretário de Estado da Saúde, Manuel Pizarro, já dissera que ambos "correm risco de vida".
É a primeira vez, desde que foi diagnosticado o primeiro caso de gripe A em Portugal - e já há 477 -, que os infectados desenvolvem complicações graves. "Cerca de 98% dos casos de gripe A sem patologia associada têm evolução benigna. Nos outros 2%, não é provável, mas é possível haver complicações ", afirmou Filipe Fróes, pneumologista do Hospital Pulido Valente, Lisboa.
Carla, internada desde anteontem no S. João, será um dos casos a figurar nas minorias improváveis. Tem 30 anos e uma bebé de quatro meses. Está desempregada e "raras vezes sai de casa", assegurou o marido, Artur. Na sua versão, ela começou a sentir-se mal na quarta-feira da semana passada. Tosse, febre altas e dores musculares, eram as queixas. Dirigiu-se ao Centro de Saúde de Celorico de Basto nesse mesmo dia. "Deram-lhe um antibiótico e mandaram-na para casa". Incapaz de melhorar, regressou no sábado. "Deram-lhe uma injecção e mandaram-na para casa". Quase melhorou, "conseguiu passear um bocadinho à noite", e no dia seguinte baptizou a filha. Na segunda-feira, voltou a piorar. Tentou resistir, mas no dia seguinte, "com arrepios e náuseas", voltou ao Centro de Saúde de Celorico. Era já terceira vez. "O médico mandou-a de urgência para Guimarães. Tinha pneumonia grave".
A possibilidade de gripe A nunca foi mencionada por nenhum dos médicos. Oito dias depois dos primeiros sintomas, quarta-feira desta semana, foi uma médica do Hospital de Guimarães quem levantou pela primeira vez essa hipótese. Isolou a doente e pediu as análises que acabariam por confirmar a gripe A. "Ainda cheguei a falar com ela, mas ela já quase não conseguia falar, tinha muita falta de ar", recorda Artur. Carla foi transferida para o Hospital de S. João anteontem à noite. O marido já não conseguiu falar-lhe. "Estava toda entubada".
Margarida Tavares explicou: "A senhora, sem patologia prévia conhecida, foi transferida já num quadro de insuficiência respiratória com necessidade de ventilação invasiva. A situação clínica é estável, embora grave, e com prognóstico reservado."
Carla, garante o marido, "não viajou nem esteve em contacto com emigrantes", pelo que é difícil detectar a origem do contágio. Mas o atraso no diagnóstico não favorece uma evolução positiva. "As situações de diagnóstico tardio estão sempre associadas à pior resolução", diz Filipe Fróes.
O outro doente internado no S. João tem 63 anos e "patologia crónica subjacente, nomeadamente cardiovascular. Sofreu um evento cardiovascular agudo. Está numa situação clínica estável".
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