Ninguém em Vila Marim, Mesão frio, consegue entender o que terá levado António Pinto, 50 anos, agricultor, a matar a tiro o motorista Vítor Lapa, 44, anteontem à noite, domingo, à porta de um café, logo após o encontro de futebol entre o Sporting e o FC Porto.
A freguesia ainda não se refez do choque de um crime de todo inesperado e todos parecem relutantes em recordá-lo. Segundo uma testemunha que não quis ser identificada, quando Vítor entrou no Café Central, junto à igreja, já António se encontrava lá. "Estava a dar a bola e havia muita gente no café. Ele andava a meter-se com todos, mas ninguém lhe ligava. O que morreu entrou, foi ao balcão tomar café e o outro foi meter conversa. Não foi correspondido. Só pedia para o deixar em paz. Depois saiu, o outro foi atrás e deu-lhe os tiros".
Um familiar do proprietário do estabelecimento confirmou a versão, salientando que "nunca ninguém pensou que iria haver aqui um crime destes, até porque não houve discussão nem nada". Acrescentou que "após ouvir os tiros os clientes saíram e viram o homem com uma pistola na mão". Presume que o agricultor terá atirado sobre o motorista quando ele ia arrancar com o carro, pois este já estava destravado e com o condutor alvejado ainda foi embater na carrinha do autor dos tiros.
Segundo fonte policial, Vítor Lapa morreu devido aos ferimentos provocados por dois tiros de pistola de calibre 6,35 milímetros, mas uma pessoa que reside junto ao café garantiu, também sob anonimato, que "havia cinco invólucros - quatro no chão e um junto aos pedais do carro".
Outra moradora realçou que depois de matar Vítor, o indivíduo "entrou no café com a arma na mão, de braço levantado, e disse: 'ninguém se aproxime senão tombo já outro". "Parecia o 'faroeste'" acrescentou um vizinho.
A GNR apareceu pouco tempo depois e deteve António Pinto, que não ofereceu resistência, entregando-o depois à Polícia Judiciária. O motorista foi assistido no local, mas acabou por morrer a caminho do hospital de Vila Real.
Vítor Lapa viveu algum tempo em Valpaços, mas depois de um divórcio voltou a morar em casa da mãe, em Vila Marim. Deixou órfãos dois filhos, de sete e 12 anos. Devido à profissão parava pouco tempo na localidade, pelo que ninguém entende que tipo de desentendimentos pudesse haver com António. "Ainda ando meia tola com tudo isto", segredou uma idosa, de 74 anos, a caminho da igreja. Junto à estrada que liga à sede de concelho, um grupo de moradores discutia a tragédia. Eram tecidos elogios à vítima: "Muito boa pessoa, não se metia com ninguém". E criticas ao agressor: "Fazia a vida negra à mulher, com os copos era um homem complicado". "A aldeia está cheia de raiva", comentavam. O funeral será amanhã, em Mesão Frio.
Jornal de Noticias
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