Gislaine esperara 12 anos para ter a segunda filha. Agora diz não pensar em voltar a engravidar. Menina devia chamar-se Mibsan
Gislaine de Matos Rodrigues não tinha dúvidas de que o parto da segunda filha devia ser feito por Orozimbo Oliveira Neto, médico que a acompanhara na gravidez. Mas, quando este se preparava para o nascimento no hospital de Ivinhema, Sinomar Ricardo, de 68 anos, o médico de serviço, invadiu a sala, reivindicando o direito de fazer o parto. Daí até os dois médicos se envolverem numa briga que os levou a rebolar pelo chão foi um passo. Tudo sob o olhar da paciente. Assistida por um terceiro médico, que praticou uma cesariana, Gislaine acabou por dar à luz uma bebé morta.
"Uma briga nessas circunstâncias é algo surreal e inimaginável", afirmou à Folha de São Paulo o delegado Lupersio Luco. A polícia do Mato Grosso do Sul abriu um inquérito para apurar se a luta entre os médicos teve influência na morte da criança. Até à data, todos os exames pré-natais de Gislaine, de 32 anos, não indicavam qualquer problema com a gravidez.
Ouvida ontem pelo delegado, a costureira explicou ao site de O Globo: "É muito doloroso, estou sentindo um vazio enorme no peito. Esperei 12 anos para engravidar de novo e acabei perdendo a minha filha na mesa de cirurgia."
Gislaine já havia comunicado ao seu médico que pretendia ter um parto normal. E, pouco antes da briga, já havia recebido a medicação para induzir as contracções e a dilatação. O marido da costureira, Gilberto Cabreira, que assistia ao parto, explicou à Folha de São Paulo ter encontrado a mulher "em estado de choque". "Ela estava chorando e repetia que já não queria o parto normal." O bombeiro explicou ainda que, enquanto os médicos trocavam murros, a porta da sala ficou aberta e a mulher "ficou exposta, nua, para todo o hospital". A cesariana acabou por ser praticada por um terceiro médico, uma hora e meia depois de a briga terminar.
Enquanto a investigação da polícia prossegue, os dois médicos foram já suspensos de funções. Sinomar Ricardo foi o primeiro a reagir. O veterano médico garantiu aos media ter sido ele a vítima da agressão. "Ele já chegou chutando a porta, tentei pegar umas coisas que estavam no chão e ele continuou me agredindo", explicou o médico ao site de O Globo. Este garantiu ainda que Orozimbo Oliveira Neto é médico de clínica geral e não obstetra, pelo que não poderia fazer o parto.
Gilberto Cabreira, por seu lado, afirma que a mulher não tem dúvidas sobre quem invadiu a sala: "Ela tem a certeza de que quem fazia o parto era o doutor Orozimbo." Gislaine, que recebeu alta ontem de manhã, disse não pensar voltar a engravidar. E até já terá começado a doar o enxoval da filha. "Não quero guardar nada. A lembrança ainda é muito dolorosa", disse. Casados há três anos, Gislaine e Gilberto já tinham nome para a filha: Mibsan Rodrigues Cabreira.
Diário de Noticias
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