“Era um comboio de luxo!”
Um electricista reformado de Viseu conta ao DIÁRIO AS BEIRAS como era viajar no velho comboio SUD EXPRESS, recentemente renovado.
A década de 60 do século XX foi uma das que mais emigração registou de portugueses para países europeus. Foi o que aconteceu com Jaime Dias, um electricista reformado de Gumirães, em Viseu, que em 1965 decidiu partir para a Alemanha em busca de melhor salário e condição de vida.
Jaime Dias foi um dos milhares de portugueses que para se deslocar utilizou aquele que era então conhecido como o “comboio dos emigrantes” – o SUD EXPRESS português, que ainda hoje se integra na linha ferroviária mais antiga da Europa. “Apanhei um comboio o Porto e depois o SUD na Pampilhosa e daí pela linha da Beira Alta. Até ao meu destino tive que fazer muitas mudanças de comboio e foi tudo muito difícil porque não percebia nada de outras línguas”, diz Jaime Dias.
Como filho de ferroviário, da antiga linha do Dão (que ligava Viseu a Santa Comba Dão), Jaime Dias continua ainda hoje a gostar de viajar de comboio. “Mas aquela viajem em 1965 no SUD EXPRESS foi memorável, por ter sido na altura em que tentei mudar a minha vida”, sublinha, acrescentando: “Aquilo para mim era um comboio de luxo!”
O antigo electricista da EDP utilizou nessa altura as velhas carruagens prateadas de compartimentos e lugares sentados que eram fabricadas na empresa Sorefame, da Amadora. “Iam sempre cheias de gente que já trabalhava ou ia tentar a sorte para fora”, diz, lembrando que também havia outras alternativas de viagem, “que não eram para os nossos bolsos”, tais como as francesas da Wagon Lits, com compartimentos-cama, ou até a ida ao “luxuoso restaurante-carruagem”.
Memórias de
“um grande comboio”
As antigas carruagens do SUD EXPRESS foram substituídas no início deste mês por novas composições da operadora ferroviária espanhola RENFE. “Ainda não vi os novos comboios, mas tenho até curiosidade de ver porque sei que são modernos e parecidos com o TGV”, diz Jaime Dias.
Mas o SUD EXPRESS deixou muitas recordações. “No meu tempo as locomotivas eram ainda a vapor e a viagem demorava um pouco mais do que com as máquinas a diesel que se seguiram”, lembra.
E as peripécias de viagem também se sucediam. Uma vez, quando já trabalhava na cidade alemã de Bad Liebenzell, voltava para a Alemanha (já com a mulher) e, na cidade basca francesa de Bayonne “entraram no comboio dois portugueses com sacos de lona”. Jaime disse à mulher que “eram emigrantes a salto”.
E eram mesmo. Depois, já na gare francesa de Austerlitz, onde o SUD terminava, Jaime prestou-se a ajudar os emigrantes ilegais. “Como nós tínhamos passaportes e documentos, trocámos de malas com eles. Pelo aspecto das nossas os guardas franceses deixaram-nos passar sem lhes pedir nada. Assim que trocámos, sumiram-se como o vento!”
A troca de malas e etiquetas foi coisa que Jaime Dias utilizou várias vezes para auxiliar portugueses ilegais ou até contrabandistas que levavam produtos portugueses aos emigrantes. “Eram grandes peripécias, num comboio que me marcou a vida”, recorda.
Voz das Beiras
VISEU CAPITAL DA BEIRA NO CORAÇÃO DE PORTUGAL CIDADE DE GRÃO VASCO COM A SUA CATEDRAL IMPONENTE NO ALTO DO MONTE
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