"A maior vergonha já a passei que foi estar detida, agora tive de ir à luta e pedir ajuda para tentar arranjar o dinheiro que as pessoas me emprestaram", disse ontem ao Diário de Viseu, Rosa Oliveira, que esteve presa com o filho de 15 meses.
Em 2002, foi intimada para se apresentar em tribunal devido a um caso de burla e falsificação, mas nunca compareceu, porque mudou de residência, não avisou o tribunal e as cartas iam para outra morada. A mulher, residente no Carregal do Sal, alega que nunca recebeu nenhuma intimação do tribunal, nem as multas por falta de comparência, que se foram acumulando até chegarem aos 1.950 euros.
"As cartas iam para outra morada e eu nunca recebi nada, até pensei que o caso tivesse sido arquivado, porque o senhor que estava no processo faleceu. Como não paguei as multas por não ter ido ao tribunal, vieram prender-me", lembrou.
No passado dia 10, foi proposto a Rosa Oliveira que pagasse os 1.950 euros que estava a dever à Justiça, no entanto, o seu orçamento não lhe permitiu, pelo que foi detida e encaminhada para o Estabelecimento Prisional de Matosinhos.
Para poder sair da prisão, a família pediu dinheiro aos habitantes e amigos e, oito dias depois, Rosa estava livre novamente. Agora, apela à solidariedade das pessoas para juntar o dinheiro necessário e devolver àquelas que lho emprestaram.
Esta família de seis pessoas (Rosa, o marido e quatro filhos) sobrevive com Rendimento Social de Inserção no valor de 575 euros, dos quais 225 são para a renda da casa fora as despesas, e com o abono dos quatro filhos, ou seja, 260 euros por mês.
A situação agravou-se quando Rosa esteve detida, juntamente com o filho de 15 meses, visto que ainda o amamenta. O marido, Eduardo Oliveira, apesar de não ter emprego certo, ia fazendo uns trabalhos que ajudavam no orçamento da casa. No entanto, com a mulher presa, teve de ficar em casa a cuidar das três filhas de quatro, seis e nove anos.
"O meu marido está inscrito no Centro de Emprego, mas como não tem habilitações é difícil arranjar trabalho e vai ser pior por causa da minha situação", receou Rosa Oliveira que diz não ter forma de "pôr comida na boca" dos filhos. A família vai recorrer à ajuda do Banco Alimentar para conseguir alguma mercearia, já que "é que faz mais falta em casa".
Para continuar a receber o Rendimento Social de Inserção, o casal tem de frequentar o programa 'Novas Oportunidades', pelo que Rosa está a tirar o 9.º ano e Eduardo está a terminar ao 4.º ano. "Disseram que íamos receber 130 euros, mas já lá vão quase quatro meses e ainda não recebemos nada", critica a mulher que ainda espera que o tribunal lhe restitua 60 euros por ter estado em "prisão subsidiária".
"Ambiente selvagem"
"Aquilo é um ambiente selvagem, é a pior coisa que existe". É assim que Rosa Oliveira, 28 anos, descreve a sua estadia na prisão. "Estive à beira de cometer o suicídio, fiquei mesmo desesperada, mas quando pensava em fazer alguma asneira agarrava-me ao meu filho", acrescentou.
"Nunca estive presa, não sabia como agir e as guardas não me explicavam nada. Pedi o regulamento, mas não mo entregaram", referiu dizendo que foi ameaçada com uma reclamação junto do director.
Segundo diz, "era porrada todo o dia" e uma vez teve de se esconder com o filho para não ser envolvida na briga. Rosa Oliveira salientou que "na prisão ninguém dá nada a ninguém e para tudo é preciso dinheiro". "A prisão era muito fria e só acendiam o aquecedor durante algumas horas. Um dia, o meu filho dormiu sozinho numa cama que tinham lá para ele e até batia o dente. A partir daí dormiu sempre comigo", contou.
A família tentou ocultar a verdade às crianças, dizendo-
-lhes que a mãe estava no hospital com um tio. Porém, a filha mais velha percebeu o que se passou e tanto ela como a irmã de seis anos são "gozadas na escola".
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