Livro conta como o primeiro-ministro Gordon Brown descarrega a frustração nos colaboradores. Ele nega as acusações
Escândalos sobre as despesas dos deputados trabalhistas, o impacto da crise financeira e económica, as tentativas de golpe para o tirarem do poder e da liderança do partido, a queda livre nas sondagens. A tudo isto o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, tem tentado resistir fazendo passar uma imagem incólume para o exterior. Mas isso só acontece porque em privado tem descarregado toda a sua raiva nos seus colaboradores mais próximos. A situação é de tal ordem que o próprio ministro da presidência do Conselho de Ministros, Gus O'Donnell, teve que chamar à atenção o actual inquilino do número 10 de Downing Street. É o que conta agora o jornalista Andrew Rawnsley, do semanário Observer, no livro The End of the Party, ou seja, O Fim da Festa (ou "do Partido").
A obra analisa o período em que o Labour esteve no poder no Reino Unido, a partir de 1997, precisando que desde que chegou à chefia do Governo, em 2007, Brown tornou-se paranóico. Em Novembro desse mesmo ano, quando foi informado sobre o extravio de discos com dados confidenciais de mais de 20 milhões de cidadãos britânicos, atravessou a sala e pegou Gavin Kelly, o seu chefe de gabinete adjunto, pelos colarinhos do casaco. Em seguida gritou na cara do mesmo: "Eles querem apanhar-me"!
Noutra ocasião, enquanto seguia no seu carro oficial e foi informado sobre más notícias, deu um tal murro na parte de trás do banco do pendura que o segurança que seguia sentado nele até se assustou com o impacto. O assistente que seguia ao seu lado acovardou-se porque achou que "o primeiro-ministro ia dar-lhe um murro na cara". Rawnsley conta que "o forro creme do assento em frente ao primeiro-ministro estava cheio de marcas pretas, pois ele costumava bater nele com o seu marcador preto". Stewart Wood, conselheiro sénior em política externa, ficou em choque com os insultos verbais proferidos pelo primeiro-ministro quando tentou aconselhá-lo a receber os embaixadores europeus em Downing Street. "Porque é que eu tenho de receber esses cabrões? Porque é que me queres obrigar a receber esses cabrões?". O livro do jornalista daquele semanário britânico refere ainda que o sucessor de Tony Blair chegou a descontar a sua fúria numa teclista de Downing Street, arrancando-lhe o teclado das mãos e escrevendo ele mesmo a mensagem pretendida.
A relação entre Alistair Darling, ministro das Finanças, e Brown, ele próprio ex-responsável por essa pasta, também não tem sido das melhores, explica Rawnsley. Na sequência de uma entrevista dada, em 2008, por Darling, na qual disse que a crise económica podia ser a pior em 60 anos, Brown ficou cego de raiva. Ligou-lhe, acusando-o de pessimismo e alarmismo, dizendo que "a crise não dura mais de seis meses". Já leva mais do dobro. Numa entrevista ao Channel 4, Brown desmente o conteúdo do livro. "Se me enfureço, é comigo mesmo. Atiro os jornais ao chão, coisas assim, mas bater nas pessoas, não", declarou o líder trabalhista, a pouco mais de três meses das legislativas no Reino Unido.
Diário de Noticias
Sem comentários:
Enviar um comentário