A água começou a subir lentamente, mas em Reguengo do Alviela, Santarém, ninguém perdeu o sono. De madrugada o único acesso à aldeia já estava cortado e o isolamento confirmado. As saídas e entradas eram apenas feitas na viatura dos bombeiros.
António Pereirinha bem tentou levar o pão fresco até Reguengo do Alviela, como faz habitualmente todas as manhãs. Conseguiu deslocar-se até Pombalinho mas "a força da água" que transbordava a EN365 fê-lo voltar para trás e tentar uma outra alternativa. Viajou até S. Vicente do Paul mas em Mouchões teve mesmo de encostar o carro à berma e esperar pelos bombeiros de Pernes. "É muita água e acho que não consigo mesmo passar", admite enquanto olha a corrente. Foi na Viatura Rural de Combate a Incêndios (VRCI) dos Voluntários de Pernes - um veículo pesado - que António conseguiu chegar a Reguengo do Alviela. Com ele viajou de Pombalinho, Fernanda Feliciano, que foi buscar o sogro, João de 78 anos, que ontem foi submetido a uma operação à vista.
"Com esta água só podemos andar neste carro" assegura Fernanda que aproveita a viagem para assegurar que "toda esta água é boa para os furos". "Havia muita gente que estava preocupada com o Verão, porque não havia água nos poços e nos furos. Agora está resolvido e os campos até ficam mais férteis", assegura.
José Manuel, bombeiro experiente, conduz devagar, tanta é água que cobre as estradas. Olha para o lado e assegura que os caudais continuam a subir. "Passei aqui às 7 horas e a água ainda não chegava aqui" diz enquanto aponta para um dos lados da via. Gonçalo Gonçalves, outro voluntário de Pernes, anui e alerta para a corrente visível no alcatrão e nos campos agrícolas. A viagem até Reguengo do Alviela é lenta e animada por lembranças de cheias de outros anos e de episódios caricatos. "Numa cheia o barco dos bombeiros virou-se e eu fui à água. Acabámos por voltar para trás e ir para casa", recorda Fernanda Feliciano.
João, o sogro, já se encontra sentado à porta de casa, com o saco dos medicamentos na mão. Enquanto Fernanda prepara tudo para a viagem, António Pereirinha distribui o pão e dá dois dedos de conversas com os habitantes da aldeia. "Hoje veio mais tarde" avisa uma das idosas que há algum tempo aguardava a chegada do pão de Alcanhões.
Zezinha, proprietária do único café da aldeia está preocupada. Desde as 13 horas de anteontem e por causa de uma trovoada, ficou sem telefone. "Não sei o que se passa", assegura. Maria, 85 anos, também está preocupada. "Sem telefone como é que chamo o meu filho" diz enquanto compra o pão.
Ao final da tarde os caudais do rio Tejo baixaram, mas a atenção nas povoações ribeirinhas mantêm-se. Reguengo vai manter-se isolado ao longo do dia de hoje. As baixas de Constância, Tancos e Vila Nova da Barquinha vão continuar alagadas.Jornal de Noticias
Sem comentários:
Enviar um comentário