Perto de 20% das gravidezes de 2008 foram de mães "idosas". O termo é duro, mas tem a ver com os riscos de ter filhos depois dos 35 anos. Um deles é o de os bebés nascerem prematuros: estes são mais 58% do que há oito anos.
Os números constam da avaliação dos indicadores do Plano Nacional de Saúde (PNS) ontem apresentado pelo Alto Comissariado da Saúde (ACS) e têm explicações sociais e médicas.
Em 2001, 14% dos nascimentos eram de mães idosas. Oito anos depois, são 19,3%, um aumento de 38%, completamente ao arrepio das metas fixadas no PNS. Quando foi desenhado, o documento apontava o objectivo de se chegar a 2010 com 14,6% de mães acima dos 35 anos.
"Para mim, enquanto médica, nem deveria ser uma meta", admite a alta comissária da Saúde, Maria do Céu Machado. Porque o fenómeno nem sequer é português - "é ocidental" - e "tem uma explicação social".
O próximo PNS, garante, até poderá incluir o indicador, mas sem a meta da redução das gravidezes idosas, porque estas resultam de as mulheres se licenciarem, trabalharem e terem filhos mais tarde. "Não faz sentido", apesar de acarretarem riscos para a saúde da mãe e do bebé: "São gravidezes de maior risco, com maior taxa de patologia para a criança e maior taxa de prematuridade".
Os nascimentos pré-termo são justamente outro dos indicadores do PNS com evolução negativa desde 2001, muito embora tenha havido uma ligeiríssima melhoria em 2008 - foram 9% de todos os nascimentos, contra os 9,1% de 2007. Mas, há oito anos, eram apenas 5,7%. Trata-se de um aumento de 57,9%, quando a meta era chegar a 2010 com 4,9%.
Maria do Céu Machado volta às mães idosas: nelas é muito maior a probabilidade de desenvolver na gravidez patologias como a hipertensão, a diabetes e infecções. Todas elas factores de risco de prematuridade. E a prova está nos dois indicadores, com subidas sustentadas e quase paralelas. A prematuridade subiu algo mais, porque mistura outras causas, explica a alta comissária.
A começar pelo facto de haver cada vez mais imigrantes no país: são mais susceptíveis a patologias infecciosas, porventura fruto de condições sócio-económicas mais baixas, além de que, cientificamente, está demonstrada o maior risco de prematuridade entre mães de origem africana, por razões biológicas.
Há que realçar ainda o aumento da infertilidade. Antes de mais, porque atrasa a decisão de ter filhos - e, logo, a idade da mãe. Depois, porque os tratamentos de infertilidade aumentam a taxa de gravidezes gemelares, que são outro risco de prematuridade.
Outro indicador que pode parecer pior é o do ligeiro aumento da mortalidade neonatal. Em 2008 houve mais oito óbitos nas primeiras quatro semanas de vida do que os 198 de 2007. Mas a taxa está na meta do PNS: 2,1 por mil nados vivos. Maria do Céu Machado lamenta, aqui, que os indicadores ainda sejam medidos m anualmente: "Já são tão baixos que uma alteração mínima já se nota". Deveriam ser avaliados de três em três anos.
Quanto a explicações, avança a evolução da medicina. Hoje investe-se mais facilmente em crianças muito prematuras, porque há mais sucesso. "Quanto mais fetos em risco retirados com 500 gramas houver, maior será a mortalidade neonatal, porque morrem sempre alguns". E a verdade é que, a este parâmetro, corresponde a redução da morte fetal, que já está nos 3,2 por mil nascimentos, bem abaixo da meta de cinco por mil fixada para 2010 e dos 5,7 registados em 2001.
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