É o "pior dos piores" cenários: 8700 mortos devido à gripe A em Portugal. Por isso, deve ser encarado sem dramatismos, dizem os especialistas, lembrando que a gripe comum mata quase duas mil pessoas todos os anos. É que este vírus tem-se mostrado até mais benigno que o da gripe sazonal. Ontem, apareceram 10 novos casos no País, num total de 122 desde de Maio.
No pior cenário, a gripe A pode matar até 8700 pessoas em Portugal. A estimativa - feita tendo em conta que o vírus pode afectar até 25% da população portuguesa e causar a morte a 0,35% dos doentes - usa as mesmas bases que levaram o responsável pela Saúde no Reino Unido a declarar que podem morrer 65 mil britânicos devido à nova gripe.
"Tendo em conta as indicações internacionais, que dizem que o H1N1 pode afectar 25% da população europeia, olhando para o nosso País e usando a taxa de letalidade do vírus da última gripe sazonal, chegamos aos 8700", explica a epidemiologista Cristina Furtado.
Mas há cenários menos alarmantes. A gripe A tem-se revelado mais benigna do que a gripe comum, que todos os anos mata em Portugal quase duas mil pessoas. Assim, mesmo que 2, 5 milhões de portugueses fiquem doentes, num cenário com uma taxa de letalidade de 0,1%, ocorrerão cerca de 2500 mortes, acrescenta a especialista do Instituto Ricardo Jorge. Ou seja, pouco mais do que as que ocorrem todos os anos devido à gripe sazonal. Em 2008, por exemplo, morreram 1900 pessoas, mas há anos bem piores: o Plano de Contingência Nacional do Sector da Saúde para a Pandemia de Gripe refere que em 2003 a mortalidade anual por gripe ou causas associadas chegou aos 3822.
"Sabemos que vamos ter mais casos de gripe este ano, porque é vírus novo e ninguém tem protecções contra ele. Logo, podemos ter mais mortos. Mas é preciso encarar estes números sem drama", diz a consultora do Ministério da Saúde. Até porque, "como estamos em alerta para este novo vírus, a vigilância é maior, e é provável que haja mais pessoas a serem diagnosticadas e tratadas" a tempo.
A sub-directora-geral da Saúde Graça Freitas, que prefere não falar de previsões, explica que estas estimativas se referem "ao pior dos piores cenários"- "o que não é expectável que aconteça, muito menos em Portugal" onde se tem conseguido gerir melhor o contágio.
"As previsões oficiais que temos são as que estão publicadas", acrescenta Graça Freitas, referindo-se ao estudo feito pelo Instituto Ricardo Jorge, em 2005, com estimativas para a possível pandemia de gripe das aves. Mas segundo esse estudo, num cenário em que 25% da população fosse afectada, morreriam ainda mais pessoas: 12 665. No entanto, Graça Freitas salienta que esse trabalho foi feito para um vírus mais mortífero.
Todas estas estimativas supõem que 25% da população será afectada - o cenário em que trabalha o Ministério da Saúde. Se se conseguir atrasar a propagação da pandemia até à chegada da vacina, o cenário pode ser ainda mais favorável. Ou seja, se apenas 5% da população ficar doente e se a taxa de letalidade for de 0,1%, teremos 500 mortos - cerca de um quarto do que mata a gripe sazonal.
A planeamento actual para a pandemia tem de considerar todos os cenários possíveis porque ainda há muito a descobrir sobre este vírus. Liam Donaldson, o responsável inglês que ontem admitiu a possibilidade de o Reino Unido ter 65 000 mortos, lembrava que não é possível dar uma estimativa precisa da mortalidade deste vírus "porque não sabemos o suficiente".
Em Espanha, onde já morreram quatro pessoas devido à gripe A, o Ministério da Saúde disse esperar pelo menos oito mil mortos este Inverno, tantos como os que a gripe sazonal causa todos os anos.
Também a ministra da Saúde portuguesa tem desdramatizado os números: Ana Jorge disse esta semana que a grande maioria (94%) dos casos de gripe A só vai precisar de ficar em casa e de medicamentos para baixar a febre para se curar. Ontem, foram confirmadas mais dez infecções pelo vírus H1N1, todas importadas, elevando para 121 o total de casos registados no País, desde o início de Maio. Segundo o Ministério da Saúde, nove destes doentes têm menos de 22 anos.
Segundo o Centro de Análise da Resposta Social à Gripe Pandémica, nas próximas semanas deverá passar-se da actual etapa A, designada por "investigar e atrasar a epidemia" para uma etapa B, denominada "dificultar a transmissão e mitigar os seus efeitos".
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