Doze euros e meio, é quanto custa, em Esposende, pelo S. Bartolomeu, salvar o corpo de males maiores. Aluga-se uma galinha preta por 7,5 euros, para dar voltas à igreja, e um banho santo custa cinco euros.
É assim todos os anos. Os banheiros pegam nas crianças e mergulham-nas nas ondas frias do mar de S. Bartolomeu, em Esposende, protegendo-as, assim, dos males que a vida lhes podia trazer. Cada criança mergulhada é acompanhada pelos disparos das máquinas dos fotógrafos, profissionais e amadores, que cada vez mais surgem em maior número na festividade. Só há uma hipótese para os homens que empunham as máquinas fotográficas registarem de forma perfeita o momento de devoção: Entrar no mar. Alguns, que por ali andam há vários anos, sabem-no bem e estavam preparados, com sandálias e calções. Outros percebem que assim deveriam ter ido. De sapatilhas e calças, apesar de tudo, não hesitam e entram, deixando que a água salgada tome conta da roupa. Acima de tudo, é necessário registar em retrato a fé das pessoas.
Indiferente às movimentações, Carlos Carvalho deixou que o filho fosse mergulhado, apesar dos seus tenros 11 meses: "Assim já fica protegido", diz, enquanto envolve o bebé numa toalha, tentando pôr fim à tremura do corpo que lhe sobrou depois das lágrimas. A busca de protecção divina faz com que os banheiros, vestidos de oleado amarelo, não tenham descanso entre o mar e a terra. Com 56 anos, José Ramiro, está mais que habituado à missão que lhe é incumbida, em troca de cinco euros: "É o costume, algumas são fáceis, outras são mais difíceis de levar. Tive uma que me obrigou, há pouco, a mergulhar com ela, pois de outra forma não ia", disse sorrindo. O homem percebe a angústia dos mais pequenos e vai falando com eles, enquanto os leva ao colo, mar adentro. "Mas nem sempre resulta", assegurou.
Quanto ao movimento, este ano, estava igual ao do ano passado, mesmo com um dia pouco propício a banhos. "Se abrisse o sol seria melhor, mas a água está boa. Ao início da manhã, estava fraco, mas agora, já estão a vir muitos", garantiu, enquanto pegava em mais uma criança deixada ao seu cuidado pela mãe.
Mas manda a tradição que se leve os filhos a dar voltas, em número impar, com uma galinha preta ao colo. Disso mesmo sabia Salete, que veio de Ponte de Lima, com o seu filho, Jorge, de sete anos. Apesar de nem todos os galináceos disponíveis na capoeira - situada ao lado da igreja - serem negros, lá conseguiu que o seu tivesse a cor recomendada. Pagou sete euros e meio pelo aluguer. Mas nada que a incomode, pois foi ali por "fé e tradição" para proteger o filho.
Os rituais começaram cedo, mas a maioria por ali se deixou ficar, pois, à tarde, realizou-se a procissão, culminando assim um dia em que se espera que S. Bartolomeu conceda as suas graças.
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