A erosão natural, a impermeabilização dos solos nas arribas, a subida do nível do mar devida às alterações climáticas, marés lunares muito fortes, uma agitação marítima mais pronunciada, o sismo de há dias e a falta de bom senso terão formado "o cocktail perfeito" para justificar acidentes como o que ensombrou o Algarve na sexta-feira.
foto Luís Forra/Lusa |
Os especialistas ouvidos são unânimes. São "tantos" os factores precipitadores da erosão que "é praticamente impossível determinar uma relação causa-efeito" para a derrocada na praia Maria Luísa, resume Alveirinho Dias, geólogo da Universidade do Algarve. Admite que, "se não fosse o sismo, a arriba provavelmente não teria cedido naquele momento, podia aguentar-se mais uns meses". Mas insiste, não tem "o mínimo de provas disso".
Já Carlos Reis, da Universidade de Lisboa e responsável pelo antigo programa Finisterra (de ordenamento e protecção do litoral), soma à ajuda que o sismo pode ter dado ao agitar as estruturas o facto de estes dias serem os das "grandes marés lunares do ano". A que se juntaram uma maior agitação marítima, com "vagas de Sudoeste que, durante a noite, terão dado ali umas pancadas". Mas, diz, atribuir culpas "é muito fácil". O problema é que "o litoral é um sistema dinâmico e não é tratado como tal, mas sim como uma coisa que o ser humano vai ter de utilizar a qualquer custo".
A erosão é natural, mas é "amplificada" pelo Homem, explica Alveirinho Dias. Além de impermeabilizar os solos, impedindo a drenagem natural das águas, as construções emitem vibrações que fragilizam as rochas. O próprio tráfego rodoviário também contribui para essa vibrações.
Conter a natureza, depois de a ter contrariado com actividade humana, torna-se tarefa difícil. Betonar as arribas, como se fez em Albufeira, seria caro, depauperaria o património natural e transformaria o Algarve num muro de betão, contesta Alveirinho Dias. E conter a queda de pedras com redes, como se vai fazendo, não impede que a arriba se fragmente. "O único processo que existe", diz Carlos Reis, "é a educação das pessoas" perante a natureza.
Alveirinho Dias lembra um estudo que concluiu que os povos latinos ignoram os avisos. E o comandante Marques Pereira, da Capitania de Portimão e Albufeira lembra a "medida técnica" da distância a manter de uma arriba: uma vez e meia a sua altura. Quanto à existência ou não de avisos suficientes, é peremptório: "Existe uma necessidade de as pessoas ter uma cultura de segurança" que não têm...
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