A Organização Mundial da Saúde voltou a pedir ao Mundo para se preparar para uma segunda vaga de gripe A. Nada que não fosse previsível. O cenário dessa segunda onda, para Portugal, é a infecção de 20 a 30% da população.
"Não podemos dizer se o pior já passou ou está prestes a chegar", disse, ontem, a secretária-geral da OMS, num simpósio sobre o novo vírus de gripe de origem suína (A H1N1), em Pequim. E porque o vírus é "caprichoso", o Planeta deve estar "preparado para todas as surpresas" e para um segunda, ou mesmo uma terceira vaga da doença, à semelhança do que aconteceu com anteriores pandemias.
Os países do Hemisfério Norte passam a estar na linha da frente com a chegada do Outono e do frio, numa altura em que a epidemia começa a recuar no Hemisfério Sul, terminado o Inverno austral. E a OMS reconhece que a onda de choque do vírus foi muito virulenta nos países do Sul, propagando-se a uma velocidade fulgurante, ao ponto de suplantar a gripe sazonal.
Nada indica que não se passe o mesmo no Hemisfério Norte (onde vivem cinco sextos da população), com a aproximação do Inverno. A preocupação é tanto mais redobrada quanto hoje se sabe que, afinal, o H1N1 é "mais virulento" do que a gripe sazonal, apesar de a imensa maioria dos casos serem benignos. A pandemia foi declarada quando se verificou a velocidade de transmissão da gripe A, uma estirpe nova para a qual não há imunidade.
O maior problema do novo vírus, segundo um porta-voz da OMS, está no facto de afectar essencialmente pessoas jovens: os casos mais severos registam-se entre os 30 e os 50 anos, sobretudo entre grávidas, obesos e doentes crónicos, sendo preocupante que 40% dos doentes graves e dos mortos sejam pessoas sem doenças pré-existentes.
Os sucessivos alertas da OMS para a possibilidade de vinda de uma segunda vaga do vírus são justificados pelo desconhecimento em torno do seu comportamento. Certo é que, para já, o H1N1 ainda não sofreu mutações.
O plano de contingência português, elaborado aquando da ameaça de epidemia de gripe das aves e entretanto limado, já assentava em cenários envolvendo uma segunda vaga de gripe, muito maior do que a primeira. Cenários calculados partindo do princípio que não há prevenção do contágio (ao contrário do que Portugal fez até à última sexta-feira).
O primeiro cenário aponta para uma primeira onda de oito semanas (com mais de cinco mil casos semanais, situação a que, actualmente, Portugal ainda não chegou), uma taxa de ataque de 10%. Só nas duas semanas de pico, afectaria 620 mil pessoas, obrigando a mais de 1,1 milhões de consultas e de 15 mil internamentos e fazendo três mil mortos.
Para a segunda vaga, foram desenhados três cenários, com taxas de ataque de 20, 25 e 30%. No primeiro caso, em oito semanas de actividade gripal, aponta-se dois milhões de infectados, 57 mil hospitalizações e 16 mil óbitos. Para 25% de infectados - a taxa que é comummente apontada como previsão pelas autoridades sanitárias -, haveria, no total, 2,6 milhões de casos, 71 mil internamentos e 20 mil mortos. O terceiro cenário implica 3,1 milhões de casos, 85 mil internamentos e 24 mil óbitos. A taxa de mortalidade tida em conta é de 1,5%.
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