Cumpre-se neste mês 15 anos sobre a morte de Kurt Cobain, líder dos Nirvana. A revista "The Village Voice" decidiu assinalar a data de forma original, através de uma banda desenhada, que está disponível no site da publicação.
Intitulada "In Bloom: The Alternate History of Kurt Cobain" ("In Bloom" é uma alusão a uma música que Cobain compôs em 1991, para o álbum "Nevermind"), é da autoria do cartoonista norte-americano Ward Sutton, num estilo que combina traço caricatural e fotografia, ao longo de 17 páginas de vinheta única. Num tom divertido e algo provocador, Sutton divaga sobre o que teria sido a vida de Cobain se ele não se tivesse suicidado, com um tiro de espingarda. Para isso, Sutton mostra inicialmente Cobain como um ídolo desaparecido, com falta de inspiração e dificuldade em compor, recorrendo à provocação para obter algum mediatismo, mas acabando por se integrar no sistema que tanto atacou - entrega, por exemplo, um prémio MTV aos Backstret Boys -, até morrer, tranquilamente, de velhice, aos 84 anos. Pelo meio, há contribuições involuntárias de Neil Young, Bob Dylan ou Courtney Love.
Cobain, para alguns, um dos maiores nomes da cena rock dos anos 90, já tinha despertado a atenção da BD em 2003, quando a Omnibus Press lançou "GodSpeed - The Kurt Cobain Graphic", um romance gráfico com quase uma centena de páginas, escrito por Barnaby Legg e Jim McCarthy e desenhado por Flameboy. Numa narrativa envolvente, que entrecruza dados biográficos e a ficção inspirada no imaginário popular criado em torno da figura do artista, os autores contam a sua infância tranquila, a sua ascensão meteórica ao estrelato e o sombrio declínio que se lhe seguiu, até à morte, que alguns alegam ter sido provocada a mando da esposa, Courtney Love.
Esta não é a primeira vez, longe disso, que a 9ª arte se interessa pelos ídolos musicais, ilustrando as suas criações ou contando a(s) sua(s) histórias. Entre os exemplos mais marcantes, contam-se "The Rolling Stones: Voodoo Lounge" (Marvel Music, 1995), a adaptação aos quadradinhos do álbum homónimo pelo britânico Dave McKean, com o seu estilo característico, misto de fotografia, desenho e colagem, ou a trilogia "Alice Cooper: The Last Temptation" (Marvel Music, 1994), com texto de Neil Gaiman ("Sandman", "Stardust", "Coraline", …), desenhos de Michael Zulli e capas de McKean.
Abordagem distinta tem o mais recente "Freddie & Me", em que Mike Dawson narra em tom autobiográfico mas também documental, os episódios reais da sua relação de fã com Freddy Mercury, o vocalista da banda britânica Queen.
Diferentes são três casos em que os musicos passaram para o "outro lado", escrevendo argumentos de bandas desenhadas. Courtney Love baseou-se na sua experiência na cena musical para criar, com DJ Milky e Ai Yazawa, "Princess Ai", um manga para leitoras adolescentes que conta a história de uma inteligente, talentosa e controversa jovem artista, que é, na realidade, uma princesa exilada de um planeta distante e que encontra refúgio na música. Destinatárias e estilo idênticos escolheu Avril Lavigne, que surge como inspiradora (de Joshua Dysart e Camilla d'Errico) e protagonista de "Pede 5 desejos" (dois volumes com edição nacional da Gradiva), a história de Hana, uma adolescente introvertida e solitária, que compra num site um demónio que lhe concede cinco desejos cuja concretização se revela bem diferente do esperado.
E, finalmente, um dos últimos grandes êxitos dos comics norte-americanos, "The Umbrella Academy", um grupo composto por sete crianças com poderes especiais, muito longe dos clichés habituais do género, com assinatura de Gerard Way, líder dos My Chemical Romance, e do desenhador brasileiro Gabriel Bá.
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