Planos da Santa Sé à data da 2ª Guerra Mundial, caso Hitler cumprisse a ameaça de raptar Pio XI.
A notícia foi avançada pelo jornal britânico Daily Telegraph, que cita documentos dos Arquivos Secretos do Vaticano. Com base num serviço do correspondente em Roma, refere que Pio XII disse à Cúria que a sua captura pelos nazis implicaria a sua resignação imediata, abrindo caminho à eleição de um sucessor.
Nessa eventualidade, os prelados teriam de se refugiar num país seguro e neutro, provavelmente Portugal, onde iriam restabelecer a liderança da Igreja Católica Romana e eleger um novo Papa, escreve o jornal.
Já estava documentado que Adolf Hitler admitia a hipótese de raptar o Papa, mas é a primeira vez que aparecem pormenores sobre a estratégia a seguir pelo Vaticano no caso dos nazis porem em prática esse plano.
"Pio disse que se o quisessem prender teriam de o arrastar do Vaticano" afirmou Peter Gumpel, o padre jesuíta alemão encarregado de investigar a possível santificação desse Papa, tendo por isso acesso aos arquivos secretos do Vaticano.
Pio, que foi Papa durante a guerra, disse aos seus conselheiros que "a pessoa que sair nessas condições não será Pio XII mas Eugénio Pacelli", o seu nome antes de ser eleito pontífice, dando assim luz verde para a eleição de um novo Papa, acrescentou.
"Teria sido desastroso se a Igreja tivesse ficado sem um chefe com autoridade", sublinhou o padre Gumpel.
Disse ainda que Pio XII, apesar de ter sido convidado reiteradamente para ir para Portugal, Espanha ou os Estados Unidos, não sairia do Vaticano de livre vontade mas sentia que não poderia deixar o Vaticano sob aquelas graves e trágicas circunstâncias.
Os documentos do Vaticano, que permanecerão secretos, parecem provar que Pio XII tinha conhecimento do plano formulado por Hitler em Julho de 1943 para ocupar o Vaticano e prender o Papa e os seus principais cardeais.
Em Setembro de 1943 - dias depois da Itália ter assinado a 03 de Setembro o armistício com os Aliados e das tropas alemãs terem ocupado Roma - Pio XII disse aos seus adjuntos que acreditava na sua captura iminente.
O general Karl Otto Wolff, das SS, recebeu ordem para "ocupar o mais rapidamente possível o Vaticano, garantir a segurança dos arquivos e dos tesouros artísticos, e transferir o Papa, juntamente com a Cúria, para que não caíssem nas mãos dos Aliados e exercessem influência política.
De acordo com historiadores, Hitler ordenou a operação por temer que Pio XII continuasse a criticar o tratamento dos judeus pelos nazis e que a sua oposição inspirasse resistência aos alemães em Itália e noutros países católicos.
Estas revelações, segundo o Daily Telegraph, são interpretadas por alguns analistas como uma tentativa do Vaticano para fazer avançar o processo de santificação de Pio XII.
Pio XII foi acusado de anti-semitismo e de alguma simpatia pelo regime nazi, nomeadamente por John Cornwell no seu livro de 1999 "Hitler's Pope", mas outros historiadores católicos e judeus contrapõem que o Papa enfureceu os nazis por ter condenado o Holocausto e por ter desenvolvido diligências para salvar judeus italianos que de outro modo teriam sido enviados para os campos de extermínio.
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