O racismo e as discriminações são muito reais na União Europeia, mas as vítimas não apresentam queixa por resignação ou medo.
Um inquérito divulgado em Bruxelas, quando decorre a conferência da ONU contra o racismo, em Genebra, revela que a discriminação, a perseguição e as violências de carácter racial estão muito mais espalhados que o que as estatísticas oficiais indicam", sublinhou Morten Kjaerum, director da Agência dos Direitos Fundamentais da UE, ao apresentar o estudo.
"Existe um problema de racismo em toda a UE e nós apresentamos provas àqueles países que o negam", reforçou Joanna Goodey, uma outra responsável desta agência, criada em 2007.
O inquérito foi realizado nos 27 Estados membros junto de 23.500 pessoas das minorias e dos grupos de imigrantes, indicaram.
"Além disso, 5.000 pessoas das populações maioritárias vivendo nas mesmas regiões das minorias foram interrogadas em 10 países europeus para permitir a comparação de alguns resultados", precisou Goodey.
"Os resultados serão apresentados à Comissão (europeia). Visam lançar o debate e permitir a adopção de medidas", explicou Kjaerum.
Cinquenta e cinco por cento dos inquiridos considera ser muito vasta a discriminação no seu país de residência e 37 por cento diz ter sido alvo de um acto de discriminação nos últimos 12 meses, enquanto 12 por cento sofreu um crime racista no último ano.
Os ciganos mostram o nível mais alto de discriminação, dado que 47 por cento denunciam ter sofrido algum acto deste tipo no último ano, seguidos de 41 por cento dos subsaarianos, segundo o estudo.
A Itália e a França não são consideradas acolhedoras para os cidadãos dos países africanos, enquanto a minoria cigana lamenta o ostracismo de que é vítima na Hungria, República Checa, Eslováquia, Grécia e Polónia.
Os romenos, cidadãos da UE desde 2004, não se sentem aceites em Itália e os brasileiros declaram-se mal amados em Portugal.
"Mas as discriminações e as violências raciais raramente são assinaladas e as que o são constituem a ponta do iceberg", sublinhou Kjaerum.
"As vítimas explicaram que apresentar queixa não mudaria nada, que isso acontece com frequência e que apresentar queixa as poderia prejudicar", adiantou.
Kjaerum assinalou que "muitos evitam certos locais por receio de serem vítimas de agressões racistas, o que não vai no sentido da integração das minorias e dos migrantes defendida na UE".
O estudo é divulgado quando está a decorrer desde segunda-feira e até sexta-feira na sede da ONU em Genebra a Conferência de Revisão sobre o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Formas Conexas de Intolerância que visa dar seguimento à de 2001, na cidade sul-africana de Durban, avaliando a aplicação nestes oito anos da Declaração de Durban e Programa de Acção, considerada a primeira estratégia mundial contra o racismo.
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