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Radio Viseu Cidade Viriato

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Mortes suprem estatisticas...


O número de mortes por acidentes de viação dos relatórios da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária está aquém da realidade e só o Plano Nacional do Trauma - que o Governo pôs na gaveta - podia revelar esta realidade.


A denúncia é feita por Manuel João Ramos, presidente da Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados (ACA-M) e organizador do colóquio interdisciplinar "Risco e Trauma Rodoviário em Portugal", que ontem e hoje decorre no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), em Lisboa. Segundo o professor, o Plano Nacional do Trauma "estava previsto para esta legislatura" e "em 2006 estava bastante avançado", mas foi "mandado parar" pelo anterior ministro da Saúde, Correia de Campos. Desde então, Manuel João Ramos nunca mais ouviu falar desta ferramenta que, em seu entender, "é uma peça muito importante para qualquer Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária (ENSR)".


Actualmente, os dados avançados pelos relatórios da ANSR contabilizam apenas as vítimas que morrem no local do acidente ou a caminho do hospital e deixam de fora as pessoas que acabam por morrer no hospital, sucumbindo aos ferimentos, dias depois do acidente. Manuel João Ramos garante que o Instituto Nacional de Medicina Legal (INML) "fala em mais 40% de mortes do que aquelas que são declaradas", um número bem acima dos 14% a mais que são todos em conta pelas estatísticas europeias.


O número de "mortes a 30 dias" é uma das questões recorrentes quando se fala de sinistralidade rodoviária em Portugal. Em Dezembro, o Governo determinou a criação de um grupo interministerial, composto por nove entidades - ANSR, Direcção Geral da Saúde, Administração Central do Sistema de Saúde, PSP, GNR, Ministério Público, INEM, Instituto Nacional de Estatística e INML - com vista a estudar a melhor forma de acompanhar esta realidade e registar estes números. O trabalho deverá estar concluído a 30 de Junho, mas Manuel João Ramos diz que, até agora, "só houve uma reunião" e duvida da vontade do Governo em avançar com este registo.


"Não interessa ao Governo avançar com isto antes das eleições", diz, admitindo que estes números vão "estragar" as boas notícias que têm vindo a ser divulgadas da diminuição da sinistralidade rodoviária em Portugal.


No colóquio do ISCTE, organizado pelo mestrado em "Risco, Trauma e Sociedade", estão em discussão vários assuntos relacionados com a sinistralidade rodoviária, "para mostrar que é um problema complexo, multidisciplinar e que não se resolve na esfera da Administração Interna", defendeu Manuel João Ramos. Os grupos de risco em meio rodoviário, a importância dos registos estatísticos, as perturbações de stress pós-traumático em vítimas de acidentes e o papel da reabilitação foram alguns dos assuntos ontem em debate.


A falta de campanhas de sensibilização dirigidas aos peões esteve em cima da mesa. Só na cidade de Lisboa, no ano passado, foram atropeladas 722 pessoas, a maioria (61%) fora das passadeiras. "É um dos principais problemas da sinistralidade na cidade", admitiu João Pinheiro, comissário da Divisão de Trânsito da PSP de Lisboa, explicando que os peões com mais de 65 anos são um dos principais grupos de risco.


Os outros grupos - à semelhança do que se verifica a nível nacional - são os motociclistas (este ano, das quatro vítimas mortais contabilizadas, três são motociclistas e a outra um peão) e os condutores mais jovens que abusam da velocidade e do álcool.


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