José Sócrates foi à RTP acusar a TVI de fazer contra si uma "caça ao homem" no caso Freeport e não perdeu a oportunidade para avisar Cavaco Silva de que o presidente da República não pode deixar instrumentalizar-se pela Oposição.
Foi sempre num clima tenso que o primeiro-ministro respondeu às questões de Judite de Sousa e de José Alberto Carvalho sobre o caso Freeport, mas também quanto às relações com o presidente da República.
O assunto Freeport foi deixado para o final da entrevista, mas percebeu-se que José Sócrates tinha uma mensagem - a de criticar o trabalho que tem sido feito pelos jornalistas e, em particular, pela TVI.
"O telejornal daTVI das sextas-feiras não é um telejornal, mas sim uma caça ao homem". Com esta frase (que levou Manuela Moura Guedes, segundo o Público, a ameaçar com um processo judicial) proferida em tom exaltado, o primeiro-ministro negou que convivesse mal com a liberdade de expressão. E justificou as nove acções judiciais movidas contra jornalistas: "Não são acções contra jornalistas mas contra pessoas que me difamaram".
Ainda em relação ao caso Freeport, Sócrates esclareceu que agiu judicialmente contra Charles Smith, o homem que o terá acusado, segundo um vídeo divulgado pela TVI, de ser "corrupto". Fez ainda questão de lembrar que toda a investigação do caso teve origem numa carta anónima que terá sido escrita por um antigo dirigente do CDS-PP de Alcochete. E negou que o Governo tenha feito qualquer pressão sobre os magistrados que estão a investigar o caso.
"Não me encontrei com nenhum procurador. Nem nunca troquei qualquer palavra sobre este caso com o procurador-geral da República", garantiu, ao mesmo tempo que demonstrava confiança que o caso não irá ter efeitos eleitorais. "Duvido que isso aconteça", respondeu, quando questionado sobre a possibilidade de o PS perder a maioria absoluta. Até porque, tinha manifestado anteriormente "esperança de que a investigação seja concluída o mais cedo possível" e que "seja investigado e punido" quem tenha usado o seu nome "com o objectivo de obter alguma vantagem ilícita ou criminosa".
Os últimos episódios das divergências de Cavaco Silva em relação à resposta do Governo à crise preencheram a primeira parte da entrevista. Ao dizer não acreditar que o presidente estivesse a criticar o Governo quando disse que "as estatísticas são usadas para ocultar a realidade", Sócrates recusou também que esteve a responder a Cavaco quando criticou "quem faz política de recado e do bota-abaixo".
"Não é a primeira vez que faço afirmações desse tipo, refiro-me à Oposição e, em particular, ao PSD", afirmou o chefe do Governo, ao mesmo tempo que deixava, também ele, um recado em que os destinatários foram o PSD e o próprio chefe de Estado.
"Se a Oposição pensa que vai transformar o presidente no rosto da Oposição, está enganada. Cada um tem de pedalar a sua própria bicicleta. Não acredito que o presidente assuma esse papel".
Quanto à necessidade, repetida diversas vezes por Cavaco, de haver uma avaliação do custo/benefício das grandes obras públicas, Sócrates defendeu-se com o argumento de essa não ser a prática dos executivos anteriores e remeteu para a leitura do "site" do Ministério das Obras Públicas.
A política governativa de resposta à crise era um dos assuntos que o primeiro-ministro levava mais bem preparado para a entrevista. Apesar de tudo, manifestou irritação quando Judite de Sousa o confrontou com a "resposta tardia do Governo" e, para citar declarações suas em Outubro de 2008 sobre a crise, até disse "basta ler os despachos de Lusa".
Foi neste tema que o primeiro-ministro deixou o anúncio de uma medida adicional de combate aos efeitos sociais do desemprego.
O subsídio social de desemprego, que já foi alargado em seis meses, passará a abranger mais cerca de 15 mil pessoas. Sócrates prometeu que o indexante da capitação vai ser aumentado. Ou seja, explicou, "o limiar a partir do qual é concedido o subsídio social é de 330 euros por pessoa do agregado familiar e passará para 450 euros".
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