A Câmara de Santa Comba Dão rejeita a intenção de afrontar a democracia ao incluir nas festas do 25 de Abril a inauguração de obras no Largo Salazar. Os resistentes antifascistas discordam e repudiam a "provocação".
As comemorações dos 35 anos do 25 de Abril, em Santa Comba Dão, estão a ser precedidas de forte polémica. Tudo porque a autarquia, de maioria social democrata, decidiu integrar no programa que assinala o Dia da Liberdade, a inauguração de obras no largo que tem o nome do ditador natural do concelho: António de Oliveira Salazar.
O autarca João Lourenço recusa qualquer ideia de afrontamento do 25 de Abril e dos ideais democráticos que lhe estão associados. "Nunca me passou pela cabeça tal coisa. Só há três dias, alertado por um presidente de junta do PSD, é que me apercebi da coincidência".
António Vilharigues, da União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP), condena a "provocação deliberada aos ideais de Abril".
"Escolher as celebrações para inaugurar obras num largo que leva o nome do símbolo do regime fascista derrubado pelo 25 de Abril, é a mesma coisa que no dia da discriminação racial alguém se lembrar de fazer uma homenagem a Hitler ou a qualquer comandante dos campos de concentração de Auschwitz ou Treblinka", acusa.
Embora discorde de inaugurações, o dirigente da URAP defende que havia outros dias para as fazer. "Escolher o 25 de Abril é uma coincidência forçada. Há de facto uma provocação deliberada por parte do executivo da Câmara, que deve ser assumida pelo seu presidente".
A indignação é partilhada por Alberto Andrade, primeiro subscritor do abaixo-assinado que reuniu 16 mil assinaturas contra a construção do "museu de Salazar". "É um atentado. Uma provocação directa ao 25 de Abril".
Alberto Andrade deixa um recado: "O presidente da Câmara devia pensar no saneamento financeiro do município e não estar a provocar os democratas deste país". E ironiza: "Oliveira Salazar deve estar no túmulo aos tombos com o rigor orçamental desta Câmara".
João Lourenço rejeita "recados ridículos". "O Executivo a que presido não teve a intenção de ferir sensibilidades. Mas se isso aconteceu, é uma boa altura para provarmos a nossa maturidade democrática. Está na hora de exorcizar fantasmas e nada melhor do que o 25 de Abril para provarmos que a democracia portuguesa está madura. Sábado vai ser um dia de festa. Vamos celebrar Abril e inaugurar melhoramentos que garantem bem-estar à população", promete João Lourenço.
Leonel Gouveia, vereador e presidente da concelhia socialista, demarca-se do evento, "despropositado relativamente à data em que foi marcado", e aconselha o executivo a preocupar-se mais "com a asfixia financeira" do município. Anuncia, ainda, que o PS não irá àquela inauguração.
O núcleo do Bloco de Esquerda de Santa Comba Dão também já condenou a "falta de respeito" e a "afronta" de inaugurar, no dia 25 de Abril, "obras no largo que tem o nome do homem que durante 48 anos oprimiu este país e o seu povo".
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